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3.8.11

Liberdade de Opinião (Rabino Michel Schlesinger)

Rabino Michel Schlesinger 

Michel Schlesinger, rabino da Congregação Israelita Paulista desde 2005, é Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo, e rabino e Mestre em Talmud e Halachá pelo Seminário Rabínico Schechter, em Jerusalém. Possui treinamento em apoio espiritual para enlutados, doentes e terceira idade, realizado em Nova Iorque e em Israel, e é membro do International Council of Christians and Jews. Trabalhou no acampamento “Camp Ramah” em New England, como educador e conselheiro, e participou de um grupo de diálogo entre jovens seculares, reformistas, conservadores e ortodoxos que vivem em Israel.

O que fez de mais importante em sua vida?
Constituí uma família. Penso que esta é a origem de inspiração para tudo o que faço.

O que lamenta não ter feito ou ainda deseja fazer, de importante?

Lamento não encontrar mais tempo em meu cotidiano para estudar com maior assiduidade. Pretendo buscar este espaço fixo de reflexão e aprofundamento.

Diante da multiplicidade de disputas e conflitos étnicos e raciais se generalizando em todo mundo,você acha que a Humanidade caminha para tempos sombrios?

Não, sou otimista. Acredito que a humanidade vai amadurecer e compreender que cada povo, etnia e religião possui a sua beleza e sua verdade. Nós apenas nos beneficiamos com a complexidade da raça humana.

Você concorda com o balizamento estatal ou religioso nas opções e preferências pessoais de cada individuo, incluindo a comunicação, opção sexual, vestimenta, fumo e bebida?

Penso que a liberdade individual inclui a possibilidade de escolher os fatores que serão levados em conta em determinada decisão. Decisões privadas poderão ser baseadas em diretrizes públicas ou religiosas, mas nunca impostas.

Qual seria a sua reação caso tivesse tolhido seu direito de opinar, consumir e de se expressar?

Procuraria o canal legítimo para denunciar esta censura seja ela contra mim ou contra qualquer outro ser humano.

<Rua Judaica>

"Anos atrás, eu tomava um 'não' colossal do Rabino Schlesinger, enquanto eu o escutava e observava o diploma da Faculdade de Direito do Largo São Francisco da Universidade de São Paulo que estava na parede de sua sala. Foi um momento memorável. Espero que daqui um tempo, possamos conversar de judeu para judeu, e que tanto ele como o resto da Congregação nos reconheça como judeus. Nunca vou esquecer a sua frase: 'estude e forme a sua família, depois disso, tente se converter'. Se pudesse falar com ele agora, diria que estou no caminho!"

5.12.10

Miketz


A história de José e seus onze irmãos é contada em detalhes nos últimos quatro trechos do Bereshit.

José esteve no fundo do poço por mais de uma vez. Ele era diferente de seus irmãos. Embora fosse o mais amado pelo pai, era incompreendido, odiado e perseguido pelos irmãos. Na primeira oportunidade, os irmãos livraram-se de José jogando-o em um poço.

Porém, a história dele teve a primeira reviravolta e ele conseguiu sair do poço de cabeça erguida e transformou-se no homem mais importante da casa do Potifar, שר הטבחים – o ministro dos cozinheiros.

Mais uma vez, por uma armadilha preparada pela esposa do Potifar, José foi parar no fundo do poço. Ele foi levado para a prisão que é chamada pela própria Tora de בור – poço.

No entanto, nosso herói conseguiu dar a volta por cima e, devido a sua capacidade de interpretar os sonhos alheios, tornou-se o segundo homem mais poderoso de todo o Egito. Este cargo lhe garantiu uma vida tranquila e também a seu pai Jacob e seus onze irmãos, que vieram ao Egito à procura de comida.

Estamos comemorando Chanucá e acendemos hoje a terceira vela. A história desta festa relembra uma época em que o Povo de Israel conheceu o fundo do poço. Os dominadores gregos haviam proibido a prática do judaísmo e impunham seus rituais pagãos ao nosso povo. Conquistaram o Templo de Jerusalém e profanaram-no colocando em seu seio estátuas de deuses gregos. Os macabeus surgiram para retirar o povo de dentro do poço e trouxeram luz e esperança para os judeus daquela época.

Tanto na vida de José como na história dos macabeus, os personagens conheceram a escuridão e o desespero. No entanto, quando tudo parecia perdido, uma luz era acesa e a escuridão do poço era substituída pela chama da esperança.

Vivemos hoje uma ameaça mais amedrontadora que o poço de José e mais poderosa que o extinto Império Grego. O inimigo da Era Contemporânea chama-se indiferença.

A falta de preocupação com a transmissão dos valores judaicos, e ausência de interesse pela continuidade das tradições, o abandono das práticas religiosas e a indiferença em relação ao futuro da nossa comunidade é o poço do qual todos fazemos parte.

Precisamos dar a volta por cima e ser os macabeus de nossos tempos.

Podemos, por meio de iniciativas simples, trazer luz à nossa comunidade e fomentar a chama do judaísmo. Devemos participar dos serviços religiosos e também convencer os amigos e familiares a fazê-lo. Devemos nos voluntariar em instituições da comunidade. Precisamos nos certificar de que nossos filhos e netos recebem uma educação judaica durante o ano e participam, nas férias, de uma colônia de férias da comunidade. Precisamos ler livros judaicos e participar de palestras e cursos de judaísmo. A cada Shabat devemos nos perguntar, o quê de judaico eu aprendi na semana que se passou? Finalmente, devemos praticar o תיקון עולם e colaborar para que o mundo seja um lugar mais justo.

Sejamos nós os macabeus da atualidade e façamos a nossa parte para que a chama da existência judaica torne-se mais vigorosa a cada dia e que a escuridão do poço de José seja substituída pela luz de uma esplendorosa Chanukiá.

Shabat Shalom e Chanucá Sameach
Rabino Michel Schlesinger

3.10.10

Bereshit

Durante a semana, a correria é enorme. Precisamos resolver muitos assuntos em um curto espaço de tempo. Os resultados são noites mal dormidas, cansaço, mau-humor e a palavra da moda: “stress”.

Mas tudo tem a sua recompensa. Nada mais gratificante do que atingir os nossos objetivos. Depois de muita correria, é bom comemorar os resultados com um merecido descanso. Tirar um fim de semana sem fazer nada é realmente fantástico.

Já houve quem dissesse que o segredo da boa música são as pausas. Tocar um instrumento requer dom e bastante treino. Mas, é nas pausas que se reconhece um verdadeiro músico.

O desafio do mundo moderno é atingir o maior sucesso naquilo que se faz sem, no entanto, nos esquecermos dos intervalos.

A pausa é que dá força ao ser humano para continuar a sua jornada. Só durante um descanso, a pessoa é capaz de analisar com cuidado aquilo que está fazendo. Olhar para trás, enxergar sua própria vida como se fosse um filme e traçar com segurança um roteiro para o futuro.

Existem pessoas que são ótimas naquilo que fazem. Mas logo fracassam, por não reconhecer o valor do descanso, por não saberem a importância de uma pausa.

Na primeira parashá de toda a Torá, Bereshit, é detalhada toda a criação do mundo. Dia a dia, o que Deus criou. As plantas, os animais, o homem. Depois de tanto trabalho, até mesmo Deus precisou de uma pausa. No sétimo dia surgiu o Shabat e Ele descansou.

O Shabat é muito mais do que um mandamento a ser observado, é uma benção de Deus. Depois de uma semana de muita correria, em que muita coisa foi resolvida, mesmo que não tenhamos solucionado todos os problemas, vamos deixar algo para a semana que vem e nos dar o direito de descansar.

Quando Deus criou o homem utilizou dois ingredientes. O pó da terra para fazer o corpo e o sopro do céu para fazer a alma. Que o Shabat traga paz ao nosso corpo e inspiração à nossa alma.


Um bom descanso.


Shabat Shalom.
Rabino Michel Schlesinger

1.8.10

Ekev


A Torá nos conta, na parashá desta semana, que Moshé jejuou nos dias que esteve falando com Deus no monte Sinai. Assim declarou Moisés: “Pão não comi e água não bebi (9:9, 9:18).

Na presença de Deus, nosso líder vivia uma experiência espiritual muito intensa. É compreensível que não tenha comido e também não tenha bebido. Sua concentração deveria ser tão grande que não teve tempo para pensar em suas necessidades físicas. Seu espírito estava sendo alimentado pelas palavras de Deus.

Segundo o midrash, existe algo muito interessante no fato de Moisés não ter comido durante sua visita às alturas celestiais. Nossos sábios nos explicam que Moshé não comeu e não bebeu porque agiu como os habitantes daquele lugar.

No céu não há comida e nem bebida. Os anjos de Deus não comem e não bebem e Moshé portou-se da mesma maneira. Não comeu e não bebeu. Em respeito aos habitantes do céu, Moisés aceitou aquilo que era o costume local e agiu como os anjos.

 Para reforçar esta tese, o midrash nos lembra de outra passagem bíblica. Quando anjos vieram visitar nossos patriarcas Avraham e Sara, foram recebidos com comida e bebida. Assim, temos um exemplo oposto. Anjos do céu quando descem a terra, também se comportam como os habitantes locais. Como o costume aqui na terra é de comer e beber, os anjos também comeram e beberam embora não fosse esta a prática vigente nas alturas celestiais.

Assim está escrito no midrash: Lá em cima (no céu), onde não há bebida e comida, subiu Moisés às alturas (para receber a Torá e não comeu); porém embaixo (na terra), onde há comida e bebida, desceram os três anjos (do céu à casa dos nossos patriarcas Avraham e Sara) e comeram, conforme foi dito: “e ele (Abraão) colocou-se com eles sob a árvore e comeram (Gên. 18:8)”.
Existe um conceito judaico que se chama minhág hamacom, o costume local. Segundo esta idéia, uma pessoa que visita outro lugar deve respeitar os costumes daquele local e agir como aqueles habitantes.

Assim, por exemplo, temos o costume de ficar em pé durante o Shemá Israel na nossa comunidade. Em diversas comunidades o costume é realizar essa oração sentado. Se alguém visita a CIP deve agir como nós fazemos. Se, da mesma forma, nós visitamos uma comunidade em que se recita o Shemá sentado, assim devemos fazer.

Esta forma de comportamento expressa o pluralismo de nossa religião. Acreditamos que existe mais de uma verdade. O que vale para mim não é, necessariamente, válido para os outros e vice-versa. Assim, quando eu sou convidado em outra cidade, outra comunidade ou outra família, devo abrir mão dos meus costumes e agir com flexibilidade. Em sinal de respeito àqueles que me recebem devo agir como eles.
Será que existe um limite para esta flexibilidade? É claro que sim. Não vou ajoelhar porque estou em uma Igreja ou uma Mesquita porque isto fere um princípio fundamental da minha religião.

Assim, é possível afirmar que o judaísmo prevê a criação de uma sociedade pluralista. Sociedade em que diversas verdades podem coexistir. Desta maneira, o indivíduo deve abrir mão de seus costumes quando se encontra entre pessoas que tem costumes diferentes. No entanto, valores fundamentais não devem ser abandonados em função da atitude de nossos anfitriões.

A interpretação dos rabinos do jejum de Moshé nos dias que esteve diante de Deus, no cume do Monte Sinai, nos traz uma importante lição. Nós também atingiremos o topo do Monte Sinai e encontraremos Deus no momento que interiorizarmos a lição de que diversas verdades podem coexistir sem que uma prevaleça sobre a outra. Nosso desafio cotidiano é buscar o equilíbrio e viver de forma pluralista. Se até os anjos comem quando nos visitam, nós podemos “jejuar” para estar mais perto de Deus.

Shabat Shalom.
Rabino Michel Schlesinger


"A mensagem sobre essa parashá explica a famosa frase do Grande Lubavitcher Rebe, Rabino Menachem Mendel Scheerson Z''L, 'o que o alimento é pro corpo, a oração é pra alma'. Boa, Rabino Schlesinger, há limites para respeito de costumes, é verdade! Ainda nos veremos novamente, Rabino!"

20.6.10

Chucat


A leitura descreve o ritual da vaca vermelha (pará adumá). Aquele que tivesse contato com uma pessoa morta deveria passar por um processo de purificação espiritual realizado com as cinzas desse animal. O Midrásh estende a eficácia do ritual para os casos de impurificação moral e não apenas física, como determina a Torá.

Segundo o Midrásh Bamidbár Rabá, o Rei Salomão, considerado o homem mais sábio de toda a Bíblia, teria afirmado: “Eu me dediquei a entender a palavra de Deus e consegui compreender tudo, exceto o ritual da vaca vermelha”.

De fato, esse ritual desafia qualquer lógica e não pode ser compreendido de forma racional. De acordo com os Tossafot, intérpretes franceses dos séculos XII-XIV, o ritual da vaca vermelha é comparável ao beijo de um amante que não se pode compreender, mas apenas vivenciar.

Aquele que preparava as cinzas para serem usadas no ritual tornava-se impuro. Israel de Ruzhin nos chama a atenção ao fato de que essa vaca purificava os impuros e também impurificava aqueles que estavam puros. De maneira similar, segundo o pensador, Deus também purifica aqueles que, com humildade, se aproximam da sinagoga e reprova aqueles que chegam a ela com arrogância.

O ritual da vaca vermelha foi abandonado com a destruição do Templo de Jerusalém. Quando saímos de um cemitério, costumamos lavar nossas mãos. Entre outras explicações, este costume serve para lembrar aquele antigo ritual.

Ainda nesta parashá, Moshé vive momentos difíceis. Seus dois irmãos, Miriam e Aaron, morrem, e ele é avisado que morrerá sem conhecer a Terra Prometida porque não seguiu corretamente as intruções de Deus ao retirar água de uma pedra. Aos poucos, os israelitas vão se afastando do Monte Sinai e se aproximam da conquista de Canaã. A geração dos espiões é substituída por uma nova geração que não conheceu a vida no cativeiro egípcio.

Shabat Shalom.
Rabino Michel Schlesinger