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17.5.11

Alexandre Blok: a agonia da poesia anterior à Revolução Russa


O poeta foi o mais influente escritor modernista da Rússia nos anos imediatamente anteriores à revolução. Seu grande talento pôde tornar também o movimento simbolista a principal corrente da poesia russa na primeira década do século XX.

Alexandre Blok situa-se entre os maiores nomes da poesia da Rússia modernista. Foi o mais influente poeta moderno anterior à Revolução Russa de 1917. Maiakovski era um grande admirador de sua obra. Anna Akhmátova, Marina Tsvetaeva, e mesmo o mais jovem Vladimir Nabokov escreveram importantes tributos poéticos em sua memória.

Hoje, sua importância foi empalidecida pelo tempo, e mesmo no Brasil, sua obra é ainda praticamente desconhecida, com apenas algumas magras traduções de seus poemas mais importantes.

Para se ter uma melhor idéia do alcance de sua poesia basta lembrar a afirmação da já velha Lila Brik (antiga paixão de Maiakovski), de que Maiakovski mesmo não acreditava que um dia pudesse chegar a ter um pouco da popularidade que tinha a obra de Blok entre a população russa.

Foi graças ao talento de Blok que o simbolismo adquiriu importância e influência na Rússia, tornando-se a principal corrente da chamada “Era de Prata” da poesia russa, situada antes de 1917.

O poeta teve também destacada importância na formação do teatro simbolista russo, autor de dramas em versos que foram levados aos palcos por Vsevolod Meierhold anos antes do diretor tornar-se mundialmente famoso com seu teatro biomecânico. Este simbolismo elevado à categoria de grande arte nacional pelo poeta tornar-se-ia o ponto de partida dos mais importantes representantes das vanguardas artísticas no país nos anos seguintes. Maiakovski escreveu versos simbolistas na adolescência. Outros cubo-futuristas foram também, em algum momento, simbolistas, como Khlébnikhov; mesmo o pintor Vassili Kandinski escreveu poesia simbolista sob a influência de Blok.

Quando acontece, porém, a Revolução, Blok, como toda uma geração de poetas já estabelecidos antes de 1917, sofrem com particular intensidade o enorme choque cultural desencadeado pelas transformações revolucionárias na Rússia. Fazendo um esforço descomunal, Blok, ao contrário dos outros simbolistas, consegue aproximar-se na nova cultura e da nova classe que emergira com Outubro. Ele concebe aí seu poema mais significativo, Os Doze, um retrato mítico e épico da vitória dos bolcheviques sobre o czarismo. Esta, porém, é sua última realização, seu último esforço criativo, sucumbindo, doente, alcoólatra e depressivo em meio às duras condições de vida durante os anos da guerra civil.

Começos
Alexandre Alexandreovich Blok era membro de uma família da aristocracia intelectual de São Petersburgo. Neto do antigo reitor da Universidade de São Petersburgo, Alexandre era filho de um professor de Direito da Universidade de Varsóvia, que era também talentoso músico amador. Sua mãe era poetisa e tradutora. O futuro poeta nasceu, portanto, em um ambiente cultural rico e estimulante.

Seus pais se separaram logo na ocasião de seu nascimento e o garoto passou assim toda a primeira infância sob os cuidados do avô materno, o botânico Andrei Beketov, residente na grande mansão de Shakhmatovo, nos arredores de Moscou. Quando sua mãe obteve legalmente o divórcio, em 1889, tomou novamente consigo o filho para morar com ela em seu novo apartamento.

Alexandre era um assíduo leitor da biblioteca de sua mãe, onde conheceu as obras de Fiodor Tiútchev e Afanasi Fet. Durante a adolescência, já escrevia versos, mas foi apenas aos 18 anos que começou a pensar com mais seriedade em tornar-se escritor.

Ele tornou-se aluno de Direito, na Universidade de São Petersburgo, mas abandou o curso pela metade. Transferiu-se então para a Divisão de História e Filosofia, onde permaneceu até pegar o diploma, em 1906.

Já decidido a viver de poesia, Blok conheceu cedo outros futuros membros do movimento simbolista russo então em fase de gestação, os poetas Vladimir Soloviev e Andrei Biely.

Seus primeiros poemas foram publicados já em 1903 na revista O Novo Caminho, de D. S. Merezhkovski.

A primeira coletânea poética de Blok foi Stikhi o prekrasnoi Dame (Versos para uma Bela Dama), publicado em 1904. A obra fora realizada sob inspiração de uma experiência mística e de seu envolvimento amoroso com Liubov Mendeleieva, filha do renomado químico russo Dmitri Mendeleiev, com quem Blok se casara um ano antes. Os versos deste livro apesar de fortemente simbolistas, reverberavam influências românticas ao exaltar uma musa semi-humana e semi-divina:

No templo de naves escuras,
Celebro um rito singelo.
Aguardo a Dama Formosura
À luz dos velários vermelhos.

À sombra das colunas altas,
Vacilo aos portais que se abrem.
E me contempla iluminada
Ela, seu sonho, sua imagem.
Acostumei-me a esta casula
Da majestosa Esposa Eterna.
Pelas cornijas vão em fuga
Delírios, sorrisos e lendas.

São meigos os círios, Sagrada!
Doce o teu rosto resplendente!
Não ouço nem som, nem palavra,
Mas sei, Dileta – estás presente.

O simbolismo russo
Surgimento do simbolismo na Rússia representou, como nos demais países europeus, uma reação às correntes realistas e naturalistas, principalmente na literatura. Nas artes plásticas, o simbolismo foi uma resposta à preponderância da Escola Impressionista.

Iniciado na França, o simbolismo foi exportado para o resto do mundo principalmente através dos influentes trabalhos de poetas franceses como Verlaine, Rimbaud e Mallarmé; mas também dos trabalhos do dramaturgo suíço Auguste Strindberg, do belga Maurice Maeterlinck e do norueguês Henrik Ibsen. Obras que tiveram grande influência sobre toda uma geração de escritores na Rússia.

A primeira geração de simbolistas russos surge ainda na década de 1890, mas chamava a atenção por seu amadorismo. Eram em geral poetas de segunda linha, que refletiam em suas produções, o atraso geral da cultura russa em relação à cultura da Europa Ocidental. Uma verdadeira tradição modernista na poesia russa só foi possível graças ao surgimento de novos grupos e novas publicações que passaram a divulgar em círculos mais amplos da intelligentsia russa as obras e ideias modernistas européias.

O mais importante destes grupos era o chamado Mundo da Arte, que passou a publicar uma revista de mesmo nome a partir de 1898, editada por Serguei Diaguilev, futuro promotor dos balés russos. Ao lado de Diaguilev circulavam também outros intelectuais que viajavam freqüentemente para a Europa e foram capazes, por assim dizer, de romper a barreira de isolamento existente entre a Rússia o ocidente. Entre os mais destacados nomes da nova geração de artistas do simbolismo estavam os poetas Andrei Bieli e Alexandre Blok e o diretor teatral Vsevolod Meierhold, que se aproxima do grupo mais tarde.

Esta segunda geração simbolista atinge sua maturidade artística nos primeiros anos do novo século, desenvolvendo-se ao longo das duas décadas seguintes e extinguindo-se abruptamente poucos anos depois da Revolução de 1917.

Seus interesses giravam em torno da valorização das emoções, da vida espiritual e subjetiva do indivíduo. Os melhores entre os simbolistas buscaram se debruçar sobre os problemas universais da coletividade humana, seu destino social e os problemas morais derivados daí. Estes ideais os levam a romper com as tradicionais formas realistas buscando colocar no primeiro plano as reflexões e problemas existenciais que eram característicos de uma época de crise, de pessoas voltadas para si mesmas e não para a realidade exterior.

Não foi por acaso, portanto, que os anos mais importantes para a consolidação do simbolismo russo tenham sido os do período imediatamente posterior à derrota da Revolução de 1905, quando o refluxo temporário do movimento operário e das forças revolucionárias tinham levado parte expressiva da intelectualidade a se voltarem para si mesmos, para suas frustrações e desmoralização pessoal.

A poesia de Blok expressava este mal estar generalizado da mediocridade da vida nestes anos. Era a poesia das evocações por um futuro melhor, daí a orientação progressista de sua obra que preservariam sua sanidade nos anos mais agudos da crise revolucionária russa.

A parceria Blok-Meierhold
Versos para uma Bela Dama tornou-se conhecido e festejado em pequenos, mas importantes círculos de literatos em São Petersburgo. Foi intensamente saudada tanto pelos simbolistas da velha geração, quando pelos jovens Andrei Bieli e Valeri Briusov. Alexandre Blok, em pouco tempo estava escrevendo também para as revistas simbolistas, como Balanço.

Apesar da sublimação presente em todos os poemas desta obra, é perceptível uma crescente nota de perturbação e um tom de súplica que chega à fronteira do desespero.

Em contato com outros simbolistas, a obra de Blok a partir 1904 passa a apresentar novos padrões de ritmos e a abordar temas ligados à vida urbana nas grandes cidades. Nos anos que se seguem, sua fama crescente o tornaria um dos mais influentes poetas da Rússia anterior à revolução.

Ele era já um poeta relativamente conhecido em 1906, quando se formou na Universidade de São Petersburgo. Neste ano o diretor teatral Vsevolod Meierhold interessou-se em apresentar nos palcos petersburgueses um “drama lírico” – como o poeta chamava suas peças em versos – de Blok, Balagántchik (A Barraquinha de Feira). Esta parceria com Meierhold seria um dos mais importantes acontecimentos do movimento simbolista russo.

Meierhold era um dos mais talentosos diretores teatrais da nova geração, era também um dos bastiões do modernismo russo. Em 1906 ele havia recém chegado das províncias e aproximou-se do movimento simbolista de São Petersburgo. Ele conhece Blok nas reuniões de simbolistas que aconteciam às quartas-feiras à noite na "Torre", como era chamado o movimentado apartamento de Vsiévolod V. Ivánov, destacado intelectual russo.

Meierhold, ex-discípulo de Stanislavski, estava decidido de uma vez por todas a romper com o teatro naturalista de seu antigo mestre. O simbolismo surge diante dele como uma ferramenta ideal para isso. O diretor participa com os demais artistas, da criação do teatro Fákeli (As Tochas).

Uma arlequinada simbolista
É neste momento também que surge o interesse de Meierhold de adaptar para o teatro o texto de Blok. A peça estréia ainda em 1906, meses mais tarde, nos palcos do Teatro da Komissarjévskaia, em uma montagem que seria tida como um marco no desenvolvimento do teatro simbolista e a evolução do modernismo teatral russo de um modo geral. É importante destacar que a Rússia neste momento, e desde Stanislavski, era a principal capital internacional do teatro.

Nesta adaptação de Meierhold, ele colocava em prática suas principais idéias artísticas em nome de um teatro de síntese, onde todos seus elementos constitutivos, texto, atuação, figurinos, cenário, iluminação e música, eram usados a serviço da revelação de uma verdade interior do texto, através de um tratamento não naturalista. A parceria Blok-Meierhold é um dos grandes momentos da carreira de ambos os artistas.

A Barraquinha de Feira era uma versão simbolista dos espetáculos da commedia dell’arte italianos, mantendo suas personagens. Ele usa o tradicional triângulo amoroso entre o Arlequim, a Colombina e o Pierrô, para narrar um trágico relacionamento amoroso que fazia parte da lírica de muitos simbolistas. A Colombina de Blok é uma dama fatal que seduz a todos por mero prazer. Com um texto de alto teor lírico ele questiona a realidade da vida e do sonho utilizando os próprios recursos ilusionistas do teatro, como na cena em que um palhaço é golpeado na cabeça por um dos guardas e cai se debatendo no chão aos berros: “Socorro! Estou me esvaindo em suco de groselha!”, ao mesmo tempo em que de fato verte suco de sua roupa.

Nesta tragédia-bufa, Arlequim termina desiludido com sua Colombina de papelão nas mãos. Inconsolável, ele salta ao parapeito da janela, recita versos sobre seu desprezo por uma sociedade de homens de papelão, e salta para a morte, mas rasga o papel do cenário e cai no chão, à vista do público, onde revela-se também aí a farsa, o subterfúgio cênico, a tragédia artificial do palhaço.

A crise pessoal
Alexandre Blok escreveria ainda outros textos teatrais de importância, como Korol na plóschadi (O Rei na Praça) e Nieznakomka (A Desconhecida), que, juntamente com o texto anterior, constituem sua mais importante trilogia teatral, concluída em 1907. Outro drama lírico de importância era A Rosa e a Cruz, de 1913, baseado em romances medievais franceses. Este texto foi ensaiado no Teatro de Arte de Moscou, mas nunca chegou a estrear.

De 1907 data sua segunda coleção poética, Radost Nechayannaya. Desde esta época ele passou a desenvolver um estilo cada vez mais agitado e sonoro, que teria grande influência entre os escritores de sua geração. A despeito de sua crescente influência, pessoalmente, Blok vivia depressivo e se sentia um fracassado.

Seu casamento havia se tornado cada vez mais tumultuado também, com crescentes brigas domésticas entre o casal. Um período de reconciliação aconteceu em 1909, quando o casal viajou pela Itália, período de tranqüilidade em que ele concebeu a obra Poemas Italianos.

A crise, porém, não era meramente casual. Coincidia com o período de esgotamento do próprio movimento simbolista russo. Blok tinha perfeita consciência disso, e o sentia intensamente. Em um prefácio escrito por ele em 1919, para o poema Vozmedie (Nêmesis), Blok esclarece: "O ano de 1910 significa a morte de Komissarzeskaia [a atriz Vera Komissarzeskaia], a morte de Vrublel [o pintor Mikhail Vrubel, que enlouquecera] e a morte de Tolstói. Com Komissarzeskaia desapareceu do palco a nota lírica; com Vrubel, o titânico mundo individual do artista, a tenacidade louca, a insaciabilidade de pesquisas conduzidas ao limiar da demência. Com Tolstói morreu a ternura humana, a humanidade sábia. Além disso, 1910 significa a crise do simbolismo, de que então se escrevia e falava muito, seja no campo dos simbolistas, seja no de seus adversários. Naquele ano deram a se conhecer, sem incertezas, algumas correntes literárias que se mostraram antagonistas tanto do simbolismo quanto umas das outras: o acmeísmo, o ego-futurismo, e os primeiros embriões do futurismo [o cubo-futurismo, grupo de Maiakovski]. O lema da primeira dessas correntes literárias era o homem: mas um homem de certa forma já diferente, um homem absolutamente desprovido de humanidade, uma espécie de ‘Adão primordial’”.
Em 1910, também Blok começou a trabalhar em um poema épico dedicado a seu pai, realizado nos meses que seguiram à sua morte. Durante mais de uma década, Blok trabalharia no livro Vozmezdie, que ele nunca conseguiria dar forma final, apesar de nunca ter abandonado o trabalho sobre ele até sua morte. O poema narrava a história familiar do poeta como uma alegoria da história russa, sendo atualizado com o passar dos anos, até abarcar a “ressurreição espiritual” do país após 1917. Este longo poema inclui ainda diversos episódios históricos da Rússia, como a vitória dos russos sobre os mongóis em 1380.

A Guerra e a Revolução
Quando começa a Primeira Guerra em 1914, o poeta passa a trabalhar como funcionário em uma empresa de engenharia que atuava nas frentes de batalha sob as ordens do Exército imperial.
Ainda sob a guerra, nos primeiros meses de 1917, ele escrevia em seu diário sobre um sonho: "Eu sentia que um grande evento estava chegando, mas o que era exatamente não me foi revelado". 

Quando acontece a Revolução Russa, poucas semanas depois, Blok a apóia e a comemora como um evento “espiritual” do país. Esta interpretação mística e religiosa ao acontecimento, apesar de toda a incompreensão, ajudou a manter Blok alinhado às forças transformadoras do país.

Após a revolução, Blok torna-se membro dos comitês que dirigiam os teatros do Estado e presidente da seção de Petrogrado dos Poetas da União. Ele permanece exercendo estas ocupações durante todo o período da Guerra Civil, se afastando somente por motivos de saúde.

Data desta época a obra-prima de sua poesia uma grandiosa epopéia em versos que era o retrato heróico e fantástico da maneira como poeta entendeu aquela revolução. O poema era Dvenadtsat (Os Doze), publicado em 1918. Neste texto poderoso, se combinam gritos de guerra, lamentos, comentários irônicos e palavras de ordem correntes naqueles anos de luta e guerra civil. 

Procurando aproximar sua poesia dos sons dissonantes e contraditórios daquela revolução, Blok se utiliza de diferentes ritmos, lança mão de onomatopéias, exclamações e versos musicais.

Seu poema não é, no entanto, uma obra que reflete a atitude e a mentalidade daqueles que fizeram a revolução. É ao contrário, a última badalada do relógio que anunciava a morte daquela corrente artística que se tornara decadente e anacrônica após a Revolução, um movimento místico, individualista, fantasioso, que só conseguia entender a realidade através das lentes turvas da religião e da fé mística, e não na compreensão concreta dos fatos.

Os Doze
Os heróis deste grande poema épico são doze soldados vermelhos - que correspondem aos doze apóstolos bíblicos. Eles caminham vigorosamente pelas ruas da capital desolada, sob o uivar dos ventos de uma tempestade, marchando sobre a neve e empunhando suas baionetas com a bandeira vermelha ao ombro. Eles avançam implacavelmente pela libertação do mundo. Em uma das fortes passagens do poema eles encontram um burguês na encruzilhada:

"Eis o burguês, um cão sem osso,
Taciturna interrogação,

E o mundo velho - frente ao moço -
Rabo entre as pernas como um cão".
(...)
"... Lá se vão sem santo e sem cruz
Os doze, pela estrada.
Prontos a tudo,
Presos a nada..."

O vigor e a brutalidade da guerra civil são perfeitamente captados nesta grande poesia, transbordando de cada detalhe da ação, dos cenários desolados, cobertos de neve, às falas entrecortadas da multidão atônita e confusa ao verem passar os soldados da revolução:

"Vermelho-aberta,
A bandeira.

todos alerta,
Em fileira.

Arma teu guante
O adversário...

E a neve com seu cortante
Açoite
Dia e noite...

Avante, avante,
Povo operário!"

É uma obra impressionante, uma realização permanente do período da revolução. Apesar disso, a alta carga religiosa que surge em diversas passagens da obra, revelava o próprio impasse em que se encontrava o artista. Como outros poetas, ele aguardara com ansiedade a Revolução, que abraça e apóia como sua. Ao tentar aproximar-se dela, porém, se defrontou com uma barreira invisível, sua total incapacidade de compreensão da essência daquelas transformações. A base social que formara sua mentalidade e sua poesia se tornara já parte do passado remoto da Rússia Romanov. Em seu movimento de se desligar do passado, Blok caiu, porém, em um completo impasse espiritual na medida em que não conseguia compreender a natureza dos acontecimentos que testemunhava. Apesar de seu entusiasmo inicial, esta crise se aprofundaria rapidamente nos anos seguintes. 

Entre a doença e a loucura
Nos meses seguintes, ele cada vez mais se afastaria das posições revolucionárias, vítima de suas próprias contradições ideológicas.

Blok permanece os últimos três anos de sua vida, sem escrever um único poema. Ao seu amigo, Maximo Gorki, ele revela ter perdido sua "fé na sabedoria da humanidade", ou, sua confiança na revolução. Sobre seu silêncio poético ele declarara a outro amigo, Kornei Chukovski: "todos os sons pararam. Você consegue perceber que não há mais nenhum som?".

Entre seus últimos textos estão os ensaios O Declínio do Humanismo e O Chamado do Poeta, ambos de 1921. Nos dois artigos, Blok expressa suas inquietações pessoais e a maneira oblíqua como entendia sua época. Neste último texto, bastante significativo, reivindicando Puchkin, ele desenvolve o tema do conflito entre a individualidade do poeta e a coletividade social.

Vítima de uma enfermidade grave, nunca diagnosticada, Blok, em meados de 1921, estava desnutrido e apresentando sintomas de doença mental, mantendo-se sempre alcoolizado e em estado depressivo. Após uma recomendação médica para que ele procurasse tratamento na Europa, Blok foi atrás do visto para atravessar a fronteira. O país, porém, vivia ainda os últimos meses da guerra civil, impedindo a saída ou entrada de qualquer pessoa do país sem motivos excepcionais. Gorki interveio então em seu favor, apelando a Anatoli Lunatcharski: “Blok é o melhor poeta da Rússia. Se você proibi-lo de ir para o estrangeiro e ele morrer, você e seus companheiros serão culpados por sua morte”. A autorização, porém veio tarde, em 10 de agosto. Alexandre Blok morrera apenas três dias antes, a 7 de agosto de 1921, vítima de uma enfermidade nunca esclarecida, mas, certamente, conseqüência das duras condições materiais da vida naquele período.

Seu trabalho continuou a ser publicado na União Soviética nos anos seguintes, mantendo ainda a influência do poeta sobre os jovens escritores da revolução.

24.10.10

145 anos da Revolta de Morant Bay

 Paul Bogle liderou a Revolta de Morant Bay e foi considerado um herói na Jamaica

Paul Bogle nasceu perto dos últimos dias da escravidão em seu país. Depois da abolição e já adulto, era um homem de situação relativamente melhor do que a dos outros ex-escravos: possuía propriedade particular e sabia ler e escrever. Além disso, Bogle era um dos 106 homens que podiam votar em Saint Thomas, capital da Jamaica.
 
Como católico, ele usou diversas lições da Bíblia para ajudar a comunidade negra a sobreviver ante as injustiças e a pobreza, principalmente no período pós-escravidão, abolida oficialmente em 1838. A Jamaica passava por um período de convulsão social, tendo em vista que os grandes proprietários de terra (brancos) não aceitavam que os ex-escravos tivessem quaisquer direitos, de forma que esses latifundiários cobravam taxas abusivas e promoviam julgamentos totalitários para o povo. E começou a correr rumores de que os latifundiários brancos queriam voltar com a escravidão.
 
Além disso, após os massacres dos europeus durante a Rebelião Indiana de 1857, a população britânica na Jamaica, como em muitas outras colônias britânicas, estava com medo de uma sublevação negra.
 
Foi neste panorama que Bogle tentou promover uma marcha até a sede do governo clamando por justiça racial. Porém, não se sabe ao certo o motivo, as pessoas desistiram da marcha, num episódio que o cantor Bob Marley descreveria poeticamente quase um século depois: "I'll never forget, they turn they back on Paul Bogle." Em português, “eu nunca esquecerei, eles viraram as costas para Paul Bogle”.
 
Porém de fato esta não foi a realidade. Em 1865 ocorreu um julgamento de dois negros que residiam na mesma localidade de Bogle. Ele e alguns homens foram até Morant Bay para dar apoio aos acusados, até porque havia mandado de prisão expedido para o próprio Bogle. Um homem seria preso injustamente, e Bogle intercedeu e evitou que a polícia o prendesse. A seguir, voltou para sua cidade, Stony Gut, e a polícia passou a persegui-lo. Nessa ocasião, toda a população negra oprimida deu suporte a Bogle. Assim, marcharam em protesto para a sede do governo novamente, onde foram recebidas a tiros; cerca de 20 pessoas do grupo de Bogle foram mortas.
 
O grupo voltou para Stony Gut, sendo perseguido pelas tropas do governo inglês de John Eyre, e assim se constituía a chamada Revolta de Morant Bay, que se deus aos dias 11 de outubro de 1865. A cidade Stony Gut foi completamente destruída, e suas as casas foram queimadas.
 
Bogle foi capturado pelas autoridades inglesas, condenado e enforcado dias mais tarde, em 24 de outubro do mesmo ano. Cerca de 440 pessoas também foram executadas e outras punições foram aplicadas, como a flagelação de mais de 600 homens e mulheres (incluindo algumas mulheres grávidas), e longas penas de prisão. Até os dias de hoje, Bogle é considerado um herói nacional da Jamaica por conta da Revolta de Morant Bay.
 

28.6.10

130 anos do nascimento do líder da Revolta da Chibata

No último dia 24 de junho, completam-se 130 anos do nascimento de João Cândido, o líder negro da Revolta da Chibata, que colocou a República Velha de joelhos.





O líder da Revolta da Chibata de 1910, João Cândido, nasceu em 24 de junho de 1880, na Encruzilhada do Sul (RS) e morreu em 6 de dezembro de 1969. Nestes 130 anos seu nascimento, o Brasil ainda não conhece a história e sua luta.

Os documentos sobre a vida e história de João Cândido não puderam ser acessados nem por ele nem pelos filhos, mesmo após sua “anistia” concedida no ano passado, 98 anos após o levante. Publicada Em 24 de julho de 2008, 39 anos depois da morte de João Cândido Felisberto, a Lei 11.756 que “anistiou” o líder da Revolta da Chibata e a seus companheiros, foi vetada pelo governo Lula na parte em que determinava a reintegração de João Cândido à Marinha do Brasil e imporia à União o pagamento dos soldos atrasados e das promoções que lhe seriam devidas, bem como na concessão de aposentadoria e pensão aos seus dependentes. João Cândido morreu na completa pobreza, como estivador e vendedor de peixes na Praça XV do Rio de Janeiro, sem patente nem aposentadoria, sendo perseguido até o fim de seus dias.

A Revolta

Em 15 de novembro de 1910 tomara posse no governo federal, cuja sede era então a cidade do Rio de Janeiro, que contava com pouco mais de um milhão de habitantes, o marechal Hermes da Fonseca, substituindo Nilo Peçanha após uma intensa campanha eleitoral, à época denominada de "civilista", encabeçada por Rui Barbosa, contra o candidato reacionário. A vitória de Hermes da Fonseca representou o predomínio dos setores mais reacionários sobre o Estado contra o candidato democrático das classes médias e de setores da burguesia.

As forças armadas burguesas apóiam-se sempre em uma disciplina burocrática. No Brasil da República Velha, mais ainda do que hoje, a Marinha constituía-se na força mais reacionária e mais aristocrática do que o Exército, dominado pela tradicional camarilha reacionária, mas ainda impregnado de toda a luta democrática que ia desde a Abolição até a proclamação da República e os primeiros anos dos governos republicanos.

Seguindo um ilegal costume da oficialidade da Marinha e do Batalhão Naval, no dia 22 de novembro, o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes, foi condenado a 250 chibatadas.

O castigo da chibatada havia sido abolido na Armada pelo terceiro decreto do primeiro governo republicano do País, em 16 de novembro de 1890, mas continuava em vigor na prática, a critério dos oficiais. Centenas de marujos, de expressiva maioria negra, continuavam tendo seus corpos retalhados, como nos tempos da escravidão pelos oficiais brancos.

Conforme o relato do 2º sargento Eurico Fogo, uma das vítimas da chibata, publicado no livro de Edmar Morel “A revolta da Chibata”, "o bandido (carrasco que aplicava a pena, NR) apanhava uma corda mediana, de linho, atravessava-a de pequenas agulhas de aço, das mais resistentes e, para inchar a corda, punha-a de molho com o fim de aparecer apenas as pontas das agulhas. A guarnição formava e vinha o marinheiro faltoso algemado. O comandante, depois do toque de silêncio, lia a proclamação. Tiravam as algemas do infeliz e o suspendiam nu da cintura para cima no pé de carneiro, ferro que se prendia ao balaustrada do navio. E, então, Alipío, mestre do trágico cerimonial, começava a aplicar os golpes. O sangue escorria. O paciente gemia, suplicava, mas o facínora prosseguia carniceiramente o seu mister degradante. Os tambores batiam com furor, sufocavam os gritos (...) A marinhada, possuída de repulsa e de profunda indignação concentrada, murmurava: - Isto vai acabar!".

O marinheiro Marcelino recebeu as 250 chibatas assistidas por toda a tripulação do navio. Mesmo depois de desmaiado o flagelo continuou.

Naquela mesma noite, às 22 horas, a bordo do Minas Gerais, primeiro e, depois do São Paulo e do cruzador Bahia, centenas de marinheiros se amotinaram, destituíram seus comandantes e toda a oficialidade. Tudo conforme haviam arquitetado os líderes da revolta, à frente dos quais se encontrava João Cândido, marinheiro negro do Minas Gerais. Segundo o próprio: “o resto foi rotina de um navio em guerra".

Governo refém

O governo ficou prostrado diante do fato de os marinheiros negros terem tomado à força o comando dos maiores navios de guerra do Brasil da época. Reunido o alto comando militar, bem como as principais autoridades e lideranças do governo e do congresso, todos tentavam em vão encontrar uma saída que não fosse a rendição diante da revolta. O regime político burguês e latifundiário, como sempre somente começava a se mexer diante da ação extrema das camadas subalternas da população.

Informados sobre as tentativas de contra ataque do governo, os marinheiros não se abateram e reafirmaram suas ameaças, por meio de novas mensagens para as autoridades onde diziam: “não queremos fazer mal a ninguém, porém, não queremos mais a chibata”, pediam o apoio da população – “ao povo brasileiro os marinheiros pedem que olhem sua causa com simpatia que merecem, pois nunca foi seu intuito tentar contra as vidas da população laboriosa do Rio de Janeiro” - mas deixam claro sua disposição de ir até às últimas conseqüências – “...quando atacados ou de todo perdidos, os marinheiros agiram em sua defesa” - e exigem providências – “... esperam, entretanto que o governo da República se resolva a agir com humanidade e justiça”.

A vitória dos marinheiros

O governo - incluindo os setores mais direitistas - recua. Não há condições para dominar e derrotar o motim. Os revoltosos dispõem de enorme poder bélico (de fato, capaz de arrasar a cidade antes que sejam dominados) e o governo não dispõe de apoio político popular para ações mais ousadas devido à crise do regime. As eleições haviam dividido os partidos das oligarquias rurais e da burguesia e da pequena burguesia das cidades, bem como os militares, e a revolta provocava pânico na população (depois das ameaças de resistência) e obtinha uma crescente simpatia, diante da enorme capacidade e organização demonstrada pelos marinheiros, não só em assumir o comando da esquadra, mas em mantê-la em funcionamento em perfeitas condições.

Nas negociações entre os revoltosos e os representantes do governo e parlamentares, os últimos prometem apenas fazer a lei que já existia proibindo a chibata, pôr em discussão as demais melhorias reivindicadas pelos marinheiros e assegurar-lhes a anistia contra a “insubordinação” e mortes de oficiais ocorridas.

Após intensa discussão no Congresso Nacional, o projeto é submetido a votação, usando-se inclusive da fraude de anunciar que os marinheiros haviam suspendido a revolta declarando-se arrependidos e suplicando a anistia. Tudo isso, como explica Edmar Morel, "foi forjado para facilitar a tarefa do Senado Federal que precisava de uma saída honrosa". Três horas após ser aprovado no Senado, o projeto foi aprovado por larga maioria na Câmara dos Deputados, demonstrando uma vez mais como uma verdadeira pressão sobre o parlamento (não os lobbies que a burocracia sindical e a esquerda petista apreciam tanto) é capaz de fazer para superar a proverbial lerdeza e má-vontade dos deputados e senadores em atender as reivindicações populares!

O Comitê Geral, dirigido por João Cândido, diante da aprovação da anistia e do fim da chibata, resolve em 25 de novembro terminar a revolta e depor as armas dos mais de três mil marujos sob seu comando, apesar de manifestações em contrário, como o marinheiro José Alves, que era contra o fim da revolta. A oligarquia da República Velha e a burguesia haviam capitulado diante da exigência armada dos marinheiros.

A posição mais recuada de João Cândido triunfa, e no dia 26 as embarcações começam a atracar no cais e o comando das embarcações é novamente entregue ao Ministério da Marinha.

Um exemplo de luta

Superando, por força das condições miseráveis que lhes eram impostas, o profundo atraso cultural em que viviam os milhares de marinheiros liderados pelo negro João Cândido, então com trinta anos, foram os protagonistas de um dos mais extraordinários episódios, dentre muitos outros dos quais a história do Brasil está repleta, que exemplificam a coragem, a determinação e a capacidade das massas exploradas do país, em particular do seu proletariado, de se insurgirem contra a exploração, a opressão e a tirania dos exploradores e seus governos.

Os limites naturais, estabelecidos pela inexperiência política de João Cândido, bem como de toda a nascente classe operária brasileira não lhe tira em nada o mérito desta luta heróica. A falta de experiência levou-os a conferir crédito às promessas dos setores da oligarquia no governo, bem como à farsa da anistia realizada no Congresso, que não impediu que as forças militares pusessem em marcha o processo de perseguição e vingança que consumiu a vida de centenas de marinheiros de forma cruel e sanguinária.
João Cândido, e todos e seus comandados em revolta são um exemplo heróico de luta que desmente, como tantos outros o mito do caráter submisso e acomodado, que a burguesia e seus teóricos pequenos burgueses, que se propagam como ervas daninhas no movimento operário e popular, tentam atribuir ao povo brasileiro.

João Cândido e a Revolta da Chibata é um exemplo para a classe operária e todos os explorados, em geral, e para os trabalhadores e a juventude negra, em particular, de quais são os métodos e o caminho para se conseguir a emancipação diante da opressão capitalista: a organização independente dos explorados, a luta com seus próprios métodos e instrumentos de luta por suas reivindicações e mesmo a sua derrota após a vitória ilustram a necessidade de liquidar com o governo e o regime político da burguesia para ver essas reivindicações fundamentais atendidas.

2.6.10

Vladimir Lênin, por Máximo Gorki




"(...) O primeiro objetivo da vida inteira de Lênin foi o bem da humanidade, e é inevitável que ele poderia ver nas obscuras distâncias das eras o fim e o termo deste poderoso processo, o início daquilo que ele tão corajosamente e tão asceticamente serve com toda sua força de vontade. Ele é um idealista, se por essa palavra se entende a unificação de todas as idéias na idéia única de um bem universal. Sua vida privada é tal que se ele tivesse vivido em uma época em que as idéias religiosas dominassem seria considerado um santo."

"(...)
Nessas linhas eu estou descrevendo o homem que teve a coragem destemida de iniciar uma revolução social européia e que em um pais onde 85% por cento são camponeses que não querem nada mais do que se satisfazerem e se confortar como a burguesia. Essa ausência de medo já foi contada por muitos como pura loucura. Eu fui um dos muitos que começaram sua carreira na promoção de revoluções cantando a gloria dos loucos bravos. No entanto, ainda havia um momento quando minha piedade natural pelo povo da Rússia me fez considerar essa loucura quase um crime. Mas agora eu vejo que essas pessoas podem sofrer pacientemente muito melhor do podem trabalhar dedicadamente e honestamente. Então novamente cato a glória da sagrada loucura dos bravos.
Deles, Vladimir Lênin foi o primeiro e mais louco."


"Um dos maiores escritores da História falando de um dos maiores ícones da História. Demais!"