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12.5.10

Morre Lena Horne, cantora e atriz negra pioneira de Hollywood



Horne com os Muppets

Horne, famosa por suas canções de jazz, ao longo de toda a carreira sofreria com o problema do racismo em seu país. Sua carreira seria definida e limitada por ele, fato que a levaria a atuar no movimento negro dos anos 60.

Na última segunda (10) morreu a cantora e atriz Lena Horne, que estava internada no hospital Manhattan's New York-Presbyterian. Ela estava com 92 anos e a causa de sua morte não foi divulgada pela porta-voz do hospital. A saúde da cantora já estava debilitada há algum tempo e sua morte foi anunciada pelo genro Kevin Buckley.

Lena Horne, nascida em 1917, começou a se apresentar como cantora nos palcos da Broadway ainda na década de 1930, em uma época onde a participação dos negros nestes shows era ainda mínima. Ela ainda se tornaria, na década seguinte, a primeira negra a assinar contrato com um grande estúdio, a MGM, estrelando como atriz em Hollywood em 1942. Seu primeiro filme foi Panama Hattie, onde ela interpreta a popular canção Just One of Those Things, do jazzista Cole Porter.

A cantora se tornaria famosa pela beleza melódica e suavidade de sua voz, que facilmente se ajustava aos mais diversos estilos, desde a melancolia suave do blues, ao som sincopado do jazz, passando por canções tecnicamente mais sofisticadas.

Apesar de ter cantado com inúmeros jazzistas ao longo da carreira, e ser normalmente associada ao estilo, rigorosamente falando ela não poderia ser classificada como cantora de jazz, pela ausência do improviso em seu canto, marca comum a todos os vocalistas de jazz. Seria, ainda, em sua participação em espetáculos populares no teatro e cinema que seu canto ganharia grande notoriedade.

Em uma entrevista à CNN, Horne daria seu testemunho dos reflexos da segregação racial norte-americana no interior do mundo do cinema "acho que o garoto que engraxava sapatos e eu éramos os únicos negros - exceto os faxineiros - que trabalhavam com as estrelas", diria ela. "Era muito solitário e eu não estava feliz".

A cantora estrelaria em duas importantes produções do estúdio durante a Segunda Guerra, Cabin in the Sky, filmagem de um popular musical negro, e Stormy Weather, ambos lançados em 1943. Em ambos os filmes ela estrelava ao lado de grandes expoentes negros do jazz, como o gênio do trompete Louis Armstrong, Duke Ellington e sua orquestra, Cab Calloway e Fats Waller.

Stormy Weather em particular alcançaria um sucesso estrondoso, no qual a cantora interpreta a canção título do filme, música composta por Harold Arlen e Ted Koehler e que seria também eternizada na voz de Frank Sinatra e Billie Holiday.

Ambos os filmes seriam realizados durante o apogeu do swing nos Estados Unidos, quando a presença dos negros na vida cultural do país era já um fenômeno impossível de ser contornado e escondido como o fora nas décadas anteriores. Tal acontecimento representaria uma grande crise para a estrutura política do país, ainda marcada pelas leis segregacionistas e o estigma social do negro.

Em muitos outros filmes em que Lena Horne atuou, entretanto, atuavam apenas atores brancos, e a participação da cantora se restringia à aparição em números musicais paralelos à trama. Isso para que o estúdio pudesse exibir o filme "editado" e "sem negros" nos estados racistas do sul. Atitude deplorável que revelava que a segregação reinante no interior do país era apoiada e respeitada rigidamente pelos capitalistas da indústria do cinema em comum acordo com os políticos racistas destes estados.

Assim foram rodados filmes como I Dood It, Thousands Cheer, Swing Fever, Broadway Rhythm e Ziegfeld Follies. Todos filmados entre 1942 e 1945, e que faziam parte do esforço de propaganda de guerra para serem exibidos aos soldados - brancos e negros - que lutavam nas linhas européias.

Seu primeiro grande sucesso na Broadway veio logo depois, como estrela do musical Jamaica, de 1957, quando seu nome se tornaria um dos mais populares da música de seu tempo.

A aparição cada vez maior dos negros meios de comunicação norte-americanos, como cinema, teatro, rádio e programas de televisão na década seguinte, não era fruto de uma abertura voluntária dos capitalistas da comunicação aos negros, mas resultado de uma enorme pressão social.

Foi um período decisivo para o amadurecimento da consciência do negro sobre a necessidade urgente de se derrubar as leis racistas em vigor. O que de fato começou a acontecer a partir da segunda metade da década de 1950 e se estenderia por mais de duas décadas de luta, até a derrubada definitiva destas leis em todo o país. Conquista que a população negra norte-americana teve que impor pela força à burguesia do país.

Lena Horne, que desde cedo esteve em íntimo contato com os dois mundos existente naqueles Estados Unidos, acabaria ela mesmo ingressando no ativismo político do movimento negro nos anos 60, sendo uma das mais importantes personalidades do meio cultural negro a apoiar publicamente as mobilizações pelos direitos civis.

"Sempre batalhei contra o sistema para tentar estar com minha gente. Não trabalhava em locais que nos deixassem de fora... Era uma maldita luta em todos os lugares, em Nova Iorque, em Hollywood, em todo o mundo", declararia ela certa vez em entrevista a respeito do racismo em seu país.

Ela ainda desenvolveria sua carreira até meados da década de 1980, quando anunciou que abandonaria os palcos.

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