Jerzy Kluger, que foi amigo de infância
de João Paulo II e teve uma grande influência na revolucionária relação
do pontífice com os judeus, teve sua morte anunciada nesta segunda-feira
por amigos. Kluger, de 92 anos, morreu na véspera do ano-novo em um
hospital de Roma, na Itália, por causa de complicações decorrentes de
uma bronquite. Ele sofria do mal de Alzheimer e vivia em um asilo da
zona leste da capital italiana.
Karol Wojtyla -que se tornaria o papa
João Paulo II- foi colega e amigo de Kluger do começo da escola primária
até o final do ensino médio, na cidade de Wadowice, no sul da Polônia.
"O jovem Karol Wojtyla aprendeu muito sobre o judaísmo com Kluger",
disse à Reuters o escritor italiano Gianfranco Svidercoschi, que foi
assessor do falecido pontífice e lançou em 1993 um livro que aborda essa
amizade, chamado "Carta a um Amigo Judeu".
"O jovem Wojtyla visitava a casa de
Kluger em Wadowice, ajudava Jerzy com seus estudos, particularmente de
latim, e começou uma amizade que influenciaria suas relações com os
judeus pelo resto da vida dele", disse Svidercoschi. Os dois amigos
perderam contato quando a Polônia foi invadida pela Alemanha nazista, em
1939, e só voltariam a se reencontrar em 1965. Durante a guerra, Kluger
e seu pai foram presos pelos russos e enviados para um "gulag" (campo
de trabalhos forçados) na Sibéria, de onde ele só seria solto após a
invasão alemã à União Soviética.
Ele então aderiu às forças polonesas que
combateram junto com os Aliados na África e na Europa, sob o comando do
general Wladyslaw Anders, e participou na crucial batalha de Monte
Cassino, ao sul de Roma. Já no final da guerra, ao saber que sua mãe
fora morta no campo de extermínio de Auschwitz, ele decidiu permanecer
na Itália. Estudou engenharia em Turim e depois se mudou para a
Inglaterra. Voltou a viver na Itália no começo da década de 1960,
trabalhando com comércio exterior, e retomou o contato com Wojtyla
quando o então arcebispo de Cracóvia foi a Roma para participar do
Concílio Vaticano Segundo - até então, o futuro papa achava que seu
amigo judeu havia morrido na guerra, e vice-versa.
Quando Wojtyla se tornou o primeiro papa
não-italiano em 455 anos, em 1978, a amizade se intensificou, e Kluger
ajudou a organizar reuniões do pontífice com seus ex-colegas de escola,
em Roma ou durante visitas de João Paulo II a Wadowice. Kluger estava na
sinagoga de Roma quando João Paulo II fez sua histórica visita de 1986,
referindo-se aos judeus como "nossos adorados irmãos mais velhos". Na
primeira visita do papa a Israel, em 2000, o amigo também estava na
plateia que o viu discursar no memorial Yad Vashem, que homenageia
vítimas do Holocausto.
A amizade perdurou até a morte de João Paulo II, em 2005.
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