Por SIMON ROMERO (Publicado no New York Times em 21 de novembro de 2011- Fotos editadas)
PETRÓPOLIS, Brasil - Quando o escritor
nascido em Viena Stefan Zweig se mudou em 1941 para esta cidade de
palácios imperiais aninhada nas montanhas perto do Rio de Janeiro, ele
era um dos autores mais traduzido do mundo e reconhecido pelas histórias
cheias de tensão sobre a obsessão, a paixão e o desespero.
Mas depois que o Sr. Zweig por causa dos
avanços dos nazistas tirou a sua própria vida em Petrópolis alguns meses
mais tarde aos 60 anos em um pacto suicida com sua jovem esposa, Lotte,
ele se tornou conhecido em seu país de adoção ao criar uma das frases
associadas ao Brasil: "País do Futuro".
O túmulo de Stefan Zweig e sua mulher Lotte. O casal suicidou-se em Petrópolis.
Derivado do título do seu livro escrito em
1941 elogiando o maior país da América Latina, a frase se expandiu e
foi reciclada ‘ad nauseam’ como um refrão: "O Brasil é o país do futuro -
e sempre será", frequentemente utilizado para caracterizar uma nação
duramente castigada pela inflação alta e corrupção enraizada.
Com as melhoras notáveis relativas às
perspectivas do Brasil os brasileiros estão reavaliando o Sr. Zweig e o
seu legado quando o título do livro ganha mais uma vez uma nova
percepção, e quando todos, desde executivos de publicidade até
diplomatas europeus que visitam o país, incluindo o presidente Obama que
visitou o Brasil em março, quando sugeriu em seu discurso que, talvez o
"futuro" do Brasil finalmente chegou.
"O Brasil não é mais o país do futuro"
disse Romero Rodrigues, um empresário da Internet brasileira, em uma
nova reapresentação do termo. "É o país do presente".
A casa onde o Sr. Zweig tirou a própria
vida tomando veneno vai reabrir em breve como um museu. Enquanto isso,
escritores brasileiros e historiadores têm refletido sobre o significado
do "País do Futuro", e algumas das intrigas políticas em torno da sua
publicação há 70 anos.
Em um recente debate televisivo sobre
Zweig, Alcino Leite Neto, editor da editora Publifolha, comparou a sua
importância para o Brasil na mesma proporção que Alexis de Tocqueville
teve em relação aos EUA e que foi o pensador político francês que
escreveu sobre os conceitos americanos de liberdade e igualdade no
"Democracy in America (Democracia na América)". "Nós tivemos Stefan
Zweig" disse Leite Neto "que nos deixou este livro defendendo a
tolerância, a compreensão entre as pessoas, e um libelo a favor da paz,
embora que foi escrito no período da Segunda Guerra Mundial".
Uma valorização mais ampla do seu trabalho
também está em andamento, com dois longas-metragens brasileiros em
produção baseados em suas obras, um sobre o "The Invisible Collection",
sobre a experiência da Alemanha com a inflação, e outra baseada no
"Leporella" sobre uma empregada que se apaixona por seu patrão.
Mas é o "Terra do Futuro" (publicado no
Brasil desde 1940 em várias edições como "País do Futuro") que as
andanças de Zweig no Brasil antes da sua morte recentemente provocaram o
aumento da atenção. A Secretaria de Cultura de Petrópolis este ano
organizou uma exposição multimídia chamada de "Stefan Zweig ainda vive!"
e alguns brasileiros começaram a se juntar aos europeus e americanos
que ocasionalmente aparecem na cidade para visitarem a sua casa na Rua
Gonçalves Dias ou até mesmo irem ao cemitério onde ele e Lotte estão
enterrados lado a lado. "É um pouco estranho levar alguém para os
lugares de tal tragédia, mas estamos felizes em receber todo o tipo de
visitante" falou Walter Raposo de 80 anos, um condutor de charrete em
Petrópolis que faz ponto em frente ao Palácio Imperial e que hoje é um
museu, e que tem levado vários aficionados de Zweig a esses lugares.
Alberto Dines, apresentador de televisão e
uma eminência entre os jornalistas do Brasil, conheceu Zweig quando
ainda era criança quando o escritor visitou a sua escola no Rio de
Janeiro, tem sido a força motriz para a atenção renovada para
Petrópolis.
Suas pesquisas e o seu livro sobre Zweig,
"Morte no Paraíso" mostra em detalhes as origens complicadas do título
do livro, que Dines explica que não foi criado por Zweig, mas que foi
uma sugestão de James Stern, que traduziu o seu livro do alemão para o
Inglês.
Em um toque de ironia Zweig, cujos pais
eram judeus da classe média alta e nascido durante a época de ouro de
Viena, mencionou no início do seu livro a frase em francês "une terre
d'avenir", mencionada em uma carta de Arthur de Gobineau, um aristocrata
francês do século 19, diplomata e teórico da superioridade racial e que
detestava o Brasil.
"É uma coisa curiosa, porque Gobineau foi o
pai do racismo moderno" relata Dines, que aos 79 anos está
supervisionando o término da Casa Stefan Zweig, o museu criado na
própria casa onde viveu Stefan Zweig. "Ao vir de uma Europa racista
Zweig ficou impressionado ao ver as diferentes raças se misturando tão
livremente no Brasil".
É claro que alguns contestam as
observações otimistas de Zweig sobre as relações raciais cujas
circunstâncias na época as tornavam consideravelmente mais complexas - e
continuam sob a forma de programas de ações afirmativas que se espalham
por todo o Brasil na busca de reversão de séculos de exclusão.
Ainda assim o otimismo de Zweig não foi
esmaecido pelos desafios óbvios no Brasil durante o início dos anos
1940, com uma expectativa média de vida de 43 anos e uma população com
56 por cento de analfabetos. Algumas de suas avaliações otimistas
continuam a provocar discussões até hoje.
Ele afirmou, por exemplo, que Portugal
tinha sido previdente ao colonizar o Brasil, em parte, com o
esvaziamento das prisões portuguesas de elementos indesejáveis e
enviá-los através do Atlântico. "Como de costume, o estrume limpo não é a
melhor preparação da terra para as colheitas futuras" escreveu Zweig.
A reavaliação de Zweig aqui coincide com
uma nova crise na Europa - e com uma nova onda de emigração de
portugueses para o Brasil, mas desta vez de profissionais desempregados e
não de presidiários. Alguns dos que procuram novas oportunidades no
Brasil poderiam até mesmo saber que Zweig continua altamente estimado em
várias partes da Europa, especialmente na França, onde seus livros
ainda são amplamente lidos.
Estranhamente o livro de Zweig sobre o
Brasil foi duramente criticado no Brasil logo após a sua publicação.
Críticos atacaram o escritor austríaco com veemência, sob a insinuação
de que ele foi pago pelo regime autoritário de Getúlio Vargas para
escrever este livro.
Dines afirmou que estas duras críticas
haviam sido uma maneira dos críticos se vingarem indiretamente dos
censores de Getúlio Vargas, pois equiparavam os elogios ao Brasil como
elogios à ditadura de Vargas. De qualquer maneira o autor de vários best
sellers tinha pouca necessidade de apoio financeiro do Brasil.
Mas o que Zweig mais precisava era um
refúgio dos nazistas. Dines, com base em suas próprias pesquisas sobre
as andanças de Zweig pelo Brasil, argumenta que o escritor tinha um
acordo implícito com as autoridades brasileiras para produzir o seu
livro em troca da autorização do visto de residência que havia sido
concedido às pressas em Buenos Aires para ele e sua esposa.
Depois de tudo isso, algum mistério ainda
persiste a respeito do porque ele se matou logo depois de chegar às
terras brasileiras. Ele reconheceu que o tempo de uma vida inteira seria
insuficiente para compreender corretamente o Brasil. Na nota de
suicídio que ele deixou descreveu-se como "um homem sem um país" e só
tinha elogios para o "maravilhoso" Brasil que o recebeu.
"Depois que eu vi o país da minha própria
língua ser vencido e a minha terra espiritual – a Europa – se destruindo
entre si" ele concluiu, "seria necessário uma imensa força para que eu
reconstruísse a minha vida”.
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