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12.12.11

Um novo olhar sobre o autor e o país que ele elogiava

Por SIMON ROMERO (Publicado no New York Times em 21 de novembro de 2011- Fotos editadas)
PETRÓPOLIS, Brasil - Quando o escritor nascido em Viena Stefan Zweig se mudou em 1941 para esta cidade de palácios imperiais aninhada nas montanhas perto do Rio de Janeiro, ele era um dos autores mais traduzido do mundo e reconhecido pelas histórias cheias de tensão sobre a obsessão, a paixão e o desespero.


Mas depois que o Sr. Zweig por causa dos avanços dos nazistas tirou a sua própria vida em Petrópolis alguns meses mais tarde aos 60 anos em um pacto suicida com sua jovem esposa, Lotte, ele se tornou conhecido em seu país de adoção ao criar uma das frases associadas ao Brasil: "País do Futuro".


O túmulo de Stefan Zweig e sua mulher Lotte. O casal suicidou-se em Petrópolis.

Derivado do título do seu livro escrito em 1941 elogiando o maior país da América Latina, a frase se expandiu e foi reciclada ‘ad nauseam’ como um refrão: "O Brasil é o país do futuro - e sempre será", frequentemente utilizado para caracterizar uma nação duramente castigada pela inflação alta e corrupção enraizada. 

Com as melhoras notáveis relativas às perspectivas do Brasil os brasileiros estão reavaliando o Sr. Zweig e o seu legado quando o título do livro ganha mais uma vez uma nova percepção, e quando todos, desde executivos de publicidade até diplomatas europeus que visitam o país, incluindo o presidente Obama que visitou o Brasil em março, quando sugeriu em seu discurso que, talvez o "futuro" do Brasil finalmente chegou.

"O Brasil não é mais o país do futuro" disse Romero Rodrigues, um empresário da Internet brasileira, em uma nova reapresentação do termo. "É o país do presente". 

A casa onde o Sr. Zweig tirou a própria vida tomando veneno vai reabrir em breve como um museu. Enquanto isso, escritores brasileiros e historiadores têm refletido sobre o significado do "País do Futuro", e algumas das intrigas políticas em torno da sua publicação há 70 anos.



Em um recente debate televisivo sobre Zweig, Alcino Leite Neto, editor da editora Publifolha, comparou a sua importância para o Brasil na mesma proporção que Alexis de Tocqueville teve em relação aos EUA e que foi o pensador político francês que escreveu sobre os conceitos americanos de liberdade e igualdade no "Democracy in America (Democracia na América)". "Nós tivemos Stefan Zweig" disse Leite Neto "que nos deixou este livro defendendo a tolerância, a compreensão entre as pessoas, e um libelo a favor da paz, embora que foi escrito no período da Segunda Guerra Mundial".

Uma valorização mais ampla do seu trabalho também está em andamento, com dois longas-metragens brasileiros em produção baseados em suas obras, um sobre o "The Invisible Collection", sobre a experiência da Alemanha com a inflação, e outra baseada no "Leporella" sobre uma empregada que se apaixona por seu patrão.

Mas é o "Terra do Futuro" (publicado no Brasil desde 1940 em várias edições como "País do Futuro") que as andanças de Zweig no Brasil antes da sua morte recentemente provocaram o aumento da atenção. A Secretaria de Cultura de Petrópolis este ano organizou uma exposição multimídia chamada de "Stefan Zweig ainda vive!" e alguns brasileiros começaram a se juntar aos europeus e americanos que ocasionalmente aparecem na cidade para visitarem a sua casa na Rua Gonçalves Dias ou até mesmo irem ao cemitério onde ele e Lotte estão enterrados lado a lado. "É um pouco estranho levar alguém para os lugares de tal tragédia, mas estamos felizes em receber todo o tipo de visitante" falou Walter Raposo de 80 anos, um condutor de charrete em Petrópolis que faz ponto em frente ao Palácio Imperial e que hoje é um museu, e que tem levado vários aficionados de Zweig a esses lugares. 


Alberto Dines, apresentador de televisão e uma eminência entre os jornalistas do Brasil, conheceu Zweig quando ainda era criança quando o escritor visitou a sua escola no Rio de Janeiro, tem sido a força motriz para a atenção renovada para Petrópolis.

Suas pesquisas e o seu livro sobre Zweig, "Morte no Paraíso" mostra em detalhes as origens complicadas do título do livro, que Dines explica que não foi criado por Zweig, mas que foi uma sugestão de James Stern, que traduziu o seu livro do alemão para o Inglês.

Em um toque de ironia Zweig, cujos pais eram judeus da classe média alta e nascido durante a época de ouro de Viena, mencionou no início do seu livro a frase em francês "une terre d'avenir", mencionada em uma carta de Arthur de Gobineau, um aristocrata francês do século 19, diplomata e teórico da superioridade racial e que detestava o Brasil.

"É uma coisa curiosa, porque Gobineau foi o pai do racismo moderno" relata Dines, que aos 79 anos está supervisionando o término da Casa Stefan Zweig, o museu criado na própria casa onde viveu Stefan Zweig. "Ao vir de uma Europa racista Zweig ficou impressionado ao ver as diferentes raças se misturando tão livremente no Brasil".

É claro que alguns contestam as observações otimistas de Zweig sobre as relações raciais cujas circunstâncias na época as tornavam consideravelmente mais complexas - e continuam sob a forma de programas de ações afirmativas que se espalham por todo o Brasil na busca de reversão de séculos de exclusão.

Ainda assim o otimismo de Zweig não foi esmaecido pelos desafios óbvios no Brasil durante o início dos anos 1940, com uma expectativa média de vida de 43 anos e uma população com 56 por cento de analfabetos. Algumas de suas avaliações otimistas continuam a provocar discussões até hoje.


Ele afirmou, por exemplo, que Portugal tinha sido previdente ao colonizar o Brasil, em parte, com o esvaziamento das prisões portuguesas de elementos indesejáveis e enviá-los através do Atlântico. "Como de costume, o estrume limpo não é a melhor preparação da terra para as colheitas futuras" escreveu Zweig.

A reavaliação de Zweig aqui coincide com uma nova crise na Europa - e com uma nova onda de emigração de portugueses para o Brasil, mas desta vez de profissionais desempregados e não de presidiários. Alguns dos que procuram novas oportunidades no Brasil poderiam até mesmo saber que Zweig continua altamente estimado em várias partes da Europa, especialmente na França, onde seus livros ainda são amplamente lidos.

Estranhamente o livro de Zweig sobre o Brasil foi duramente criticado no Brasil logo após a sua publicação. Críticos atacaram o escritor austríaco com veemência, sob a insinuação de que ele foi pago pelo regime autoritário de Getúlio Vargas para escrever este livro.

Dines afirmou que estas duras críticas haviam sido uma maneira dos críticos se vingarem indiretamente dos censores de Getúlio Vargas, pois equiparavam os elogios ao Brasil como elogios à ditadura de Vargas. De qualquer maneira o autor de vários best sellers tinha pouca necessidade de apoio financeiro do Brasil.

Mas o que Zweig mais precisava era um refúgio dos nazistas. Dines, com base em suas próprias pesquisas sobre as andanças de Zweig pelo Brasil, argumenta que o escritor tinha um acordo implícito com as autoridades brasileiras para produzir o seu livro em troca da autorização do visto de residência que havia sido concedido às pressas em Buenos Aires para ele e sua esposa.

Depois de tudo isso, algum mistério ainda persiste a respeito do porque ele se matou logo depois de chegar às terras brasileiras. Ele reconheceu que o tempo de uma vida inteira seria insuficiente para compreender corretamente o Brasil. Na nota de suicídio que ele deixou descreveu-se como "um homem sem um país" e só tinha elogios para o "maravilhoso" Brasil que o recebeu.

"Depois que eu vi o país da minha própria língua ser vencido e a minha terra espiritual – a Europa – se destruindo entre si" ele concluiu, "seria necessário uma imensa força para que eu reconstruísse a minha vida”.

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