Estamos nos aproximando de
Chanuká, a festa das luzes, comemorando a vitória dos Macabeus contra o
helenismo e o império greco-romano, que tentaram impedir os judeus de
praticarem seu judaísmo. Esta foto tirei na cidade de Aventura, em
Miami, muito perto do Aventura Mall. O outdoor diz, em hebraico
transliterado: "Lifnei she Chanuká iaafoch le Christmas, Higuia Hazman
Lachzor Laaretz." Cuja tradução ao português seria: "Antes que Chanuká
se transforme em Natal, chegou a hora de voltar para Israel."
Essa foi uma propaganda
feita pelo governo israelense, pela sochnut yaehudi para incentivar os
israelenses que moram nos Estados Unidos a retornarem para Israel. E o
número de israelenses vivendo nos Estados Unidos já passa de 1 milhão
(entre os oficiais e os "extra"-oficiais).
Proponho a seguinte
pergunta: Será que esta seria a solução para acabar com a assimilação;
dissociar Chanuká do Natal, fazendo a distinção do sentido de cada
festa, e incentivando os judeus a fazer aliá, ou retornar para Israel,
para que possam vivenciar um estilo de vida mais judaico? De uma certa
forma sim; ajudaria, já que em Israel praticamente não se comemora o
Natal, e o índice de assimilação é pequeno ainda. Na galut, fora de
Israel, a realidade é, de fato, outra: o índice de assimilação está
acima dos 50%, ou seja, de cada dois casamentos judaicos, um é misto.
Portanto, por um lado,
concordo com a propaganda: um israelense ou judeu, em Israel, tem menos
chances de se assimilar. Discordo, no entanto, que esta seja a única
solução, já que nem todos se adaptam à vida em Israel. Nem todos têm a
chance - a possibilidade financeira, social ou o contexto pessoal - de
se mudar para Israel. Este é um ideal que muitas vezes requer esforço e
um certo sacrifício e, embora existam aqueles que estão dispostos a
enfrentar as dificuldades de adaptação, outros não têm condição de
transportar-se para esta nova e tão distinta realidade.
O que poderia ser um outro
remédio para a assimilação, então? Os judeus que estão frequentando as
sinagogas, kollelim, estudando Torah, praticando o judaismo, respeitando
o shabat, comendo comida kasher, mesmo fora de Israel - estes estarão
mais imunes, e provavelmente, nestes meios, Chanuká não se transformará
em Natal, e uma árvore decorada terá menos chance de aparecer ao lado de
um candelabro de Chanuká. Em primeira análise, Chanuka é uma festa de
luzes, e de fato neste sentido, bastante superficial, a árvore de natal
toda iluminada guarda semelhanças.
A ameaça dos lendários
inimigos do nosso povo; Haman (ministro do rei Assuero no Irã (Persia),
na época da rainha Esther) e Hitler (versão moderna de Aman), cujo brado
é a aniquilação do povo judeu e dos seus descendentes, a exterminação
da memória de qualquer rastro judaico no mundo - é distinta em sua
essência àquela que levou os Macabeus ao fronte de batalha. A história
dos Macabeus em Chanuká retrata um inimigo aparentemente mais afável -
os gregos ofereceram a chance de não matar nem fazer nenhum mal ao nosso
povo, desde que estivéssemos dispostos a abdicar do judaísmo e seus
preceitos - seriam banidos a circuncisão, o estudo da Torah e a
comemoração das festas (Yom Tov). Os sábios da época declararam guerra
porque perceberam que o inimigo explíc
ito gera uma necessidade de combate na alma. Já este, que se
apresentara naquele momento, era um inimigo sedutor, dissimulado, e
tanto mais perigoso. O helenismo, aos poucos, exterminaria pela raíz,
erradicando a essência, e destituindo o nosso povo daquilo que nos
define como judeus.
Assim, coloquemos a
seguinte questão para a nossa festa de Chanuká deste ano de 2011: Se o
judaísmo para nós permanecer somente uma bela tradição a ser preservada
em sua mais agradável modalidade alimentar (ocasionais visitas às
iidiche mames recheadas de keidlachs e farfeles e afins), ou uma
história a ser contada em forma de lenda distante; então de fato o
Chanuka Guelt pode servir para comprar presentes de Natal, e as
sufganiot (aqueles sonhos recheados de geléia) ou os latkes serão um
saboroso acompanhamento para o Peru de Natal - correto?
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