Estava praticamente chegando ao final de
uma viagem que fazia com meus três filhos, quando fui parado por um
policial rodoviário federal. Como solicitado, entreguei a ele meus
documentos pessoais e os do veículo.
Depois da vistoria geral do veículo o
policial, ainda com os documentos em mãos, me perguntou de onde eu
vinha. Respondi: de longe. Ele então insistiu, para onde vai? Respondi:
Para mais longe ainda. Minha esposa ficou assustada e me cutucou para
que eu respondesse as perguntas corretamente.
Disse a ela, em tom alto o suficiente
para que o policial também ouvisse que eu o estava respeitando em toda a
plenitude de seus direitos, entregando-lhe os documentos solicitados e
acatando qualquer decisão dele em relação ao seu trabalho, inclusive de
me multar se eu tivesse feito algo ilegal, mas que eu não tinha a
obrigação de informar de onde vinha ou para onde iria, pois aquele não
era mais o papel e nem o direito dele.
Minha intenção, naquele momento, jamais
foi a de desacatar o policial, mas ensinar meus filhos que, em qualquer
situação, nunca deveriam abrir mão de seus direitos. Já se passaram
aproximadamente 30 anos do ocorrido e continuo pensando da mesma forma.
Não podemos invadir o direito de nenhuma pessoa, independentemente de
sua posição religiosa, educacional, cultural ou profissional e nem
permitir que nenhum espaço do nosso direito seja invadido.
Respeitar direitos muitas vezes significa
abrir mão, se desprender de algo que julgamos ser nossos- como os
filhos-, quando na realidade só o que podemos fazer é educá-los enquanto
pequenos, encaminhar seus estudos e acompanhá-los até que possam alçar
vôo próprio.
Já na juventude ou até antes dela eles já
nos mostram que possuem vontade própria, desejos e objetivos diferentes
dos nossos. Por sua imaturidade muitas coisas precisam ser controladas,
contrariando-os, encaminhando-os por mais um período, para que possam
amadurecer mais e aí sim, cobrar seus direitos.
Nessa fase já precisam estar preparados
para, na vida em sociedade, exigir o respeito por seus direitos, mas
também, claro, respeitar o das outras pessoas. E, se muitos deles
tomarem para si esse princípio e continuarem, com a educação dos
próprios filhos, certamente em algumas décadas teremos um país bem
melhor.
Certa vez ouvi de uma pessoa já bem mais
idosa, muito experiente, sábia e com quem aprendi muito, que as ações
individuais são propagadas como as ondas criadas na água quando atingida
por uma pedra. Na primeira propagação é um círculo pequeno, empurrado
para mais longe pelo segundo, que é empurrado pelo terceiro e assim
sucessivamente até que o efeito do impacto da pedra na água deixe de
tumultuar o local do impacto.
O choque inicial diminui à medida que a
pedra se distancia, aprofunda na água e nenhuma onda será provocada
depois de certa profundidade. Sem a geração de novas ondas a
tranquilidade da água vai voltando desde o local inicial até atingir a
margem que havia recebido todas as ondas.
Como no lago, a paz volta quando toda a
propagação, de uma nova idéia, regra, ação, ou atitude política foi
totalmente absorvida pela sociedade. A exigência do respeito a seus
direitos e a observância dos direitos alheios deveria ser posta em
prática do mesmo modo, partindo da educação dos jovens em casa, que
criará uma onda na escola, no bairro, na cidade, município e assim por
diante.
A cobrança por seus direitos e o
respeito pelo dos outros é um exercício diário, difícil, mas se todos
sempre o exigissem, em quaisquer situações, certamente teríamos
convivências muito mais pacíficas e harmoniosas entre as pessoas, os
países e os continentes.
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