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28.9.10

Nas mãos de quem está a Paz?

Ouço rumores lá fora por minha janela no alto do Leblon. É o ronco de uma motocicleta misturado às turbinas longínquas de um avião. Outro dia ouvi morteiros de dentro de um cinema. Alguém murmurou, com ironia: “estamos sendo bombardeados”. Depois, ao ler os jornais com notícias sobre o fim da moratória dos assentamentos, refleti: vivemos numa cidade dita conflagrada, por conta do poder armado do tráfico. Ainda assim, quando ouço morteiros, só consigo rir da hipótese de estarmos sendo bombardeados, como dissera o gaiato no escuro do cinema. Aqui ocorre um meio confronto entre heranças sociais já conflitante e a oportunidade que se dá à bandidagem de explorar os ouros mais cobiçados pelo ser humano, quando esse assunto deveria, da produção à venda, do controle à saúde, estar nas mãos do Estado. Contudo, é lá, bem adiante, lá em Gaza, lá na Cisjordânia, que a chapa é quente. Perto daquilo, o Rio é uma Amsterdã, com suas ciclovias e canais onde nadam os patos. Ontem ouvi na CNN o Clinton dizer que acredita que “Israel can ‘deliver’ Peace”. A palavra “deliver” tem uma força incrível nessa sentença. Dá-nos a ideia de que a Paz está mais nas mãos de Israel. Às vezes eu também penso que sim, que Israel tem mais condições de “entregar” a paz sem se entregar, mas não vou me estender. Aí perguntaram a Clinton se ele acreditava que a Paz viria num momento em que a maioria não crê numa solução próxima. Ele disse: “Mas eu creio”, sem explicar muito bem o motivo. O Paulo Geiger diz que é coisa para uns 100 anos, mas que certamente virá a tal confederação verdejante de países e povos irmãos. A.B. Yehoshua aposta em 200. Não me arrisco a um palpite no meio dessa turma. Apenas palpita meu coração, como se estivesse sofrendo um ataque, quando leio que a moratória acabou.

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