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6.10.10

Os Ludeus

A vida toda Yoshke quis ser alguém. ‘Quem você quer ser, Yoshke?’, perguntava sua tia, Dona Luba Lubovitch. Yoshke olhava para um ponto indeterminado e dizia: ‘Eu quero ser alguém’. ‘Alguém quem?’, provocava Tia Luba. ‘Um grande rabino’. ‘Mas que tipo de rabino?’ ‘Um rabino astronauta’. ‘E o que faz um rabino astronauta?’. Yoshke refletiu. ‘Vai tocar shofar na Lua’. ‘Pra quem?’ ‘Pros ludeus’. ‘Ludeus?’ ‘É, os judeus que vivem no mundo da Lua’. Tia Luba se afastava então, deixando Yoshke com suas considerações, satisfeita com os progressos do sobrinho. Para Tia Luba, Yoshke, a esta altura com oito anos, já era um baita alguém. Tia Luba era a única a pensar assim. O resto da família, ao contrário, via os pensamentos de Yoshke como coisa de uma mente alterada. ‘Esse tem parte com Dibuk’, dizia sua mãe. ‘Ainda bem’, desafiava Tia Luba. ‘Puxou ao avô materno, que tinha sífilis’, dizia seu pai. Yoshke fazia que não ouvia, e talvez nem ouvisse mesmo. Passava o tempo enchendo uns cadernos de frases desgovernadas, ilustradas por desenhos feitos com lápis de carvão. Chegou a desenhar os tais ‘ludeus’, os judeus da Lua. E o rabino-astronauta, no centro, com seu shofar lunar. Não sei, até aqui, o que o futuro reservaria para Yoshke. Vou pensar a respeito. E um dia volto a falar dele. Shavua Tov.

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