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12.12.11

Vovô deve estar tendo orgasmos no Holám Habá

Estive afastado dessa Rua por um bom tempo (por culpa unicamente minha) e não sei com que regularidade irei aparecer por aqui futuramente. Talvez o critério que passe a me orientar seja aquele que me leva a escrever para esta edição: além das saudades, o fator fundamental foi o advento de "ter o que escrever", motor de toda motivação. Por exemplo, comecei a estudar iídiche semana passada e não podia deixar de compartilhar tal fato neste espaço. Sempre tive inveja do iídiche falado por meus pais, tios e patrícios mais velhos em geral, ornado por risos tão saborosos quanto um borbulhante "iúr" (ou será "iór"?) e de uma musicalidade que fazia contraponto ao alemão, língua irmã, tornado tão rude pela memória dos discursos de Hitler.


Meu avô Salomão bem que tentou me ensinar: ele mesmo confeccionava as apostilas em papel timbrado do Instituto de Meteorologia com sua grafia luxuosa a lápis, e tinha o cuidado de transliterar as palavras para o português, fazendo-as soar com o sotaque bessarabiano. Claro que ele sabia escrever iídiche em caracteres hebraicos (com os quais eu estava familiarizado, ma non troppo) como deve ser, mas sua intenção, ao transliterar, era facilitar minha vida.


Ocupado demais com minhas veleidades juvenis, não consegui persistir e acabei abandonando a empreitada. Mais recentemente, fui levado, por uma corrente caótica de emails, ao nome do professor (e cantor de coral, e advogado) Moysés Garfinkel.

A primeira aula foi numa salinha do Midrash, e lá serão as seguintes. Garfinkel não quis me dar vida fácil: começamos já com a grafia hebraica, e fiquei surpreso (Moisés também) com a facilidade que tive em decifrá-las: a proximidade de meus pais provavelmente criou um mimetismo inconsciente que me levou a intuir a maneira certa de fazê-las soar, não caindo na tentação de "falar hebraico em iídiche".

Meu objetivo final, além, é claro, de poder conversar com meus pais e ouvir o Osias fazer humor em iídiche (sempre disse a ele que seria um mestre do stand-up-comedy se quisesse), é de um dia poder contar, em iídiche, a piada do negro americano que, num banco de praça, lê um jornal iídiche nos EUA dos anos de caça às bruxas e é interrompido por um judeu que passa e pergunta, em iídiche: "Você é judeu"? O negro o olha com certo espanto e responde (em iídiche): "Só me faltava isso". Fico imaginando o sabor de contar essa história nesse idioma germânico dos judeus da diáspora leste-europeia tantos séculos atrás. Ou, quem sabe, de ler, um dia, Scholem Aleichem no original. Será que consigo? 

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