Meu avô Salomão bem que tentou me ensinar:
ele mesmo confeccionava as apostilas em papel timbrado do Instituto de
Meteorologia com sua grafia luxuosa a lápis, e tinha o cuidado de
transliterar as palavras para o português, fazendo-as soar com o sotaque
bessarabiano. Claro que ele sabia escrever iídiche em caracteres
hebraicos (com os quais eu estava familiarizado, ma non troppo) como
deve ser, mas sua intenção, ao transliterar, era facilitar minha vida.
Ocupado demais com minhas veleidades
juvenis, não consegui persistir e acabei abandonando a empreitada. Mais
recentemente, fui levado, por uma corrente caótica de emails, ao nome do
professor (e cantor de coral, e advogado) Moysés Garfinkel.
Meu objetivo final, além, é claro, de
poder conversar com meus pais e ouvir o Osias fazer humor em iídiche
(sempre disse a ele que seria um mestre do stand-up-comedy se quisesse),
é de um dia poder contar, em iídiche, a piada do negro americano que,
num banco de praça, lê um jornal iídiche nos EUA dos anos de caça às
bruxas e é interrompido por um judeu que passa e pergunta, em iídiche:
"Você é judeu"? O negro o olha com certo espanto e responde (em
iídiche): "Só me faltava isso". Fico imaginando o sabor de contar essa
história nesse idioma germânico dos judeus da diáspora leste-europeia
tantos séculos atrás. Ou, quem sabe, de ler, um dia, Scholem Aleichem no
original. Será que consigo?
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