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4.8.11

"Violinista no Telhado" - Um perfil de Sholem Aleichem

Por Nahma Sandrow

Na década de 1880 o judeu ucraniano Solomon Rabinowitz começou a sua carreira literária sob um nome artístico, porque escrevia em iídiche, em vez de uma linguagem respeitável como o hebraico ou o russo. O pseudônimo que escolheu foi o de Sholem Aleichem, que é simplesmente a saudação cotidiana "Como está você?" Suas histórias se tornaram imediatamente populares, e em pouco tempo todos sabiam a identidade do homem por trás do pseudônimo, mas ele a conservou mesmo assim; era perfeitamente emblemático para as suas obras e a sua época, na qual o iídiche coloquial ganhou uma força própria.
O pseudônimo também agradou o autor por causa da sua sociabilidade. Um novo e maravilhoso documentário ‘Sholem Aleichem: Laughing in the Darkness (Sholem Aleichem – Dando Risadas na Escuridão)’, em tradução livre, está cheio de centenas, talvez milhares de rostos individuais, em fotos antigas e em velhos filmes caseiros. Estes rostos olham para você, conversando entre si e com você, lançando um desafio para reduzi-los a abstrações nostálgicas. Estes foram os leitores de Sholem Aleichem, e ‘Laughing in the Darkness’ mostra a história de Sholem Aleichem como uma maneira das pessoas contarem as delas. 


No final dos anos 1800 e início de 1900, as formas estabelecidas da vida judaica na Europa Oriental desmoronaram. Forças externas foram envolvidas nesta revolta: a Revolução Industrial e o crescente empobrecimento da população; a liberalização promovida pelo czar Alexander II e a violenta repressão e os pogroms que aconteceram logo em seguida ao seu assassinato, a Revolução Russa e a Primeira Guerra Mundial I. E havia as forças internas, ambas com causas e efeitos: o movimento iluminista judaico e o florescimento concomitante do iídiche como uma linguagem moderna e secular, com a sua própria literatura e obras impressas, o sionismo, as migrações, e assimilações. 

 

Sholem Aleichem passou por altos e baixos como o resto da comunidade. De uma infância feliz ele mergulhou na pobreza com uma madrasta que praguejava tão amargamente que a primeira obra literária do enteado foi um dicionário das suas criativas maldições - demonstrando não só o sabor através de um iídiche popular, mas o seu impulso que sempre teve ao longo da sua vida para extrair comédia da dor. Durante a maior parte de sua vida, enquanto escrevia história após história, ele sempre procurava obter dinheiro de várias maneiras, constantemente à procura de segurança: tal como os seus leitores. 

O escritor e diretor do filme, Joseph Dorman, habilmente tece a história desse homem, dos que falavam a língua iídiche, a literatura secular em iídiche e a linguagem em si. Ele realiza isso através de uma narração econômica, com comentários de "personalidades", grandes figuras que falam com autoridade e humor: os professores Ruth Wisse, David Roskies, Dan Miron, Avraham Novozstern, e Michael Stanislavski; o tradutor Hillel Halkin; Aaron Lansky que é o fundador do National Yiddish Book Center; o professor e artista Mendy Cahan, bem como a neta do autor, Bel Kaufman. Ele também integra trechos dos escritos de Sholem Aleichem que são lidos por atores, e excertos de várias versões cinematográficas de suas histórias. O filme também apresenta duas das figuras de ficção mais conhecidas de Scholem, e ambos exemplificam as experiências de muitos judeus contemporâneos, incluindo a de Sholem Aleichem.

 
 
Primeiro encontramos o luftmentsh (uma pessoa pouco prática que procura inutilmente ficar-rico-instantaneamente) Menahem-Mendl, que vai para a cidade grande para ganhar muito dinheiro. Enquanto a pobreza aflige os pequenos artesãos e comerciantes, o mercado de ações internacional se expandindo, e fortunas sendo amealhadas apenas por alguns, porém atraindo muitos outros para tentarem a sorte. O infeliz Menahem-Mendl representa a todos em romance de Scholem Aleichem que é contado através do envio de cartas para casa, extasiado com as riquezas que ele iria conseguir em breve. Enquanto isso a sua esposa exasperada, abandonada na aldeia com as crianças, escreve de volta que em sonhos os bolinhos são apenas sonhos e não bolinhos reais. Ele mesmo, Sholem Aleichem, jogava grandes somas na Bolsa de Valores e realmente ganhou uma fortuna, que depois perdeu tudo, permanentemente.

 
 
O segundo personagem é Tevye, o leiteiro, talvez tão famoso quanto o seu criador por causa das muitas versões do Fiddler on the Roof (Violinista no Telhado). Assim como o menino Solomon Rabinowitz e o autor já adulto, Tevye sonha com a segurança, que ele imagina como sendo o de poder possuir uma casa grande de luxo. Também como Scholem Aleichem, Tevye tem filhas para sustentar e educar, filhas que estão crescendo em um mundo que mudou drasticamente desde a sua juventude. Uma das filhas de Tevye casa com um revolucionário e vai para a Sibéria, o que é bastante doloroso para ele. E outra se casa com um não-judeu, participando da desintegração do povo judeu. Isso ele não pode perdoar. 

 

Após a morte de Sholem Aleichem aos 57 anos de tuberculose em 1916, ‘Laughing in the Darkness’ traça o destino dos leitores de Sholem na União Soviética, onde no início ele e toda a literatura secular em iídiche eram homenageadas e até mesmo subsidiadas por ser considerados como a voz do povo. Mas a década de 1930 trouxe a repressão e expurgos, culminando em 1952 com o assassinato por Stalin de quase todos os autores proeminentes restantes em língua iídiche. Nos primeiros anos do Estado de Israel, a imensa pressão interna e social combinadas suprimiu o iídiche que era associado com a impotência da Diáspora, em favor de uma língua hebraica moderna. 

Ironicamente, foram os judeus americanos, aqueles que tinham deixado para trás o Velho Mundo, que se tornaram os guardiões da chama. Inevitavelmente houve uma tendência para romantizar-lo. Por volta de 1960 Tevye foi apresentado na Broadway e em Hollywood, como um leiteiro mais doce e mais alegre. Quando o Tevye original de Scholem Aleichem é expulso da sua aldeia a sua filha deixa o seu marido não-judeu e retorna, fiel a seu próprio povo enquanto esse povo vagueia para o exílio. Várias décadas depois a versão cinematográfica de Fiddler on the Roof apresentou um final feliz tipo norte-americano: Tevye parte para a segurança de uma nova terra, enquanto sua filha continua com o seu marido não-judeu - com a bênção de Tevye.


Havia 200 mil pessoas no funeral de Sholem Aleichem em 1916 e foi o maior até agora da cidade de Nova Iorque. Todas as facções e grupos judaicos: socialistas, sionistas, ortodoxos e muitos outros, se juntaram no cortejo fúnebre. O evento foi tão grande que parecia estar anunciando os judeus como sendo uma parte importante na população da cidade. Porém apenas uma década antes, quando Sholem havia tentado apresentar o teatro iídiche norte-americano, as suas peças sofreram severas criticas deixando-o falido e humilhado. Mas, para os que compareceram no seu funeral, Scholem Aleichem representava os seus passados. Quase um século depois Sholem Aleichem mostrou-nos quem éramos e como nos tornamos o que somos hoje e, talvez, como ainda poderemos ser judeus num mundo moderno.


"Uma das maiores personalidades judaicas de toda a História, sem dúvida. As gerações futuras precisam saber quem foi Scholem Aleichem!"

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