Quinze anos sem Adolpho. Parece que foi ontem que se completaram dez. Lembro que na época (2005) eu havia escrito uma crônica exaltando a atriz Luana Piovani, depois de ter passado horas numa mesa de Jobi de frente para a mesa em que ela estava sentada, exuberante. Luana leu e, num programa de TV (acho que o Saia Justa) retribui: "Eu queria mandar um beijão pro Adolpho Bloch". Na crônica seguinte, agradeci, e fiz uma ponderação usando o linguajar do personagem Nerson da Capitinga: "Só um detalhe, Luana: o Adolpho Bloch mó-rrreu". E aproveitei para lembrar os dez anos, que, por coincidência, se completavam naquela semana. Três anos depois, no centenário de seu nascimento, lançaria "Os irmãos Karamabloch" (Cia das Letras), saga desassombrada sobre a família, que reúne a multifacetada constelação de fatos e relatos que orbita sua existência. Aliás, vira e mexe alguém me chama de Adolpho, cartas para mim vêm assim endereçadas, e tem leitor que acha que tenho uns 120 anos.
Adolpho e seu irmão Arnaldo, avô do assinante da coluna, vestido de cossacos, na Ucrânia.
Uma vez chegou uma correspondência para "Arnolfo" Bloch. Jamais me ofendo. Ao contrário, me oferendo: é uma honra ser chamado de Adolpho. O único infortúnio é o de pensar que não estou à altura de tal designação. Sou apenas um brasileiro descendente de judeus ucranianos, jornalista, botafoguense e escritor, que vem a ser sobrinho-neto de Adolpho. Ele, por sua vez, é um personagem, para além da história da imprensa brasileira, da civilização universal. Um antipatriarca bíblico amaldiçoado e abençoado por todas as forças, divinas e dibukianas, cosmológicas, naturais e sobrenaturais. Adolpho foi uma resultante, um mar formado por muitos rios, tentando expandir sua angústia, sua dor e sua (mais rara) alegria no oceano de nossa condição humana, por mais absurda que ela pareça. Se John Lennon ainda vive, eu digo: Adolpho lives, too. Se mora no Gan Eden ou só em nossas lembranças, uma coisa é indiscutível e provada através da razão e da emoção: ele vive. E pra não deixar passar, um detalhe: era Botafogo. Gostava quando o Flamengo ganhava porque o Brasil ficava mais feliz e vendia mais revista. Vamos lembrar Adolpho. E fazê-lo reviver nesse final de 2010, e que a Chanukiá ilumine a corrente que ele criou em nossa alma.
(Fonte: Notícias da Rua Judaica)
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