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20.9.10

Shalom, Salam, Saravá

Passado o Yom Kippur, reuni-me com duas amigas queridas, a escritora Tatiana Salem Levy – autora do belíssimo e premiado livro “A chave de Casa” – e Sílvia Naidin, ambas patrícias. Enquanto tomávamos uma garrafa de vinho australiano e saboreávamos fatias de pastrami com azeite, pão e geléia de figo, Tatiana falou sobre sua sensação de que, nas cerimônias judaicas que presenciou, falta-lhe a percepção de uma verdadeira espiritualidade. Tatiana dizia que se emocionava com cânticos, mas que essa emoção tinha mais um fundo afetivo, relacionado com a sua criação, do que espiritual.

Ela observou que, ao visitar outras experiências coletivas religiosas – como o Candomblé, ou ritos indígenas – encontrou ali muito mais dessa expressão mística. Eu entendo o que diz a Tatiana. Já frequentei comunidades ortodoxas, em pequenas sinagogas como a do número 17, Rue des Rosiers, das mais antigas de Paris, onde senti uma forte onda de energia e espiritualidade, e também certa vez, numa grande sinagoga sefaradita na Rue de Tournelles, na mesma cidade, onde presenciei tal fervor que me vi transportado para outro mundo. Mas será que o Avinu Malkenu que tanto me faz chorar no Yom Kippur é uma experiência de expressão espiritual, ou psicológica, emocional, afetiva?

Não sei. Também já visitei, como jornalista e cidadão de mente aberta, ritos africanos e tomei o ayahuasca na noite amazônica com índios do Acre e vi ali mais força que na maioria das cerimônias judaicas por aqui. Talvez os ritos judaicos tenham se cercado de mais de tradição e do aspecto de reunião social e perdido parte de seu caráter de “transe” coletivo, como se faltasse um tambor que vibre junto com a alma. Bom assunto para reflexão. E que comecemos esse ano numa onda boa, de paz e amor. Parafraseando o Osias, Shalom, Salam, Saravá.

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