Um amigo de infância me enviou um e-mail
com um vídeo de um jovem que se apresentou em um programa de jurados e
na mensagem anexa, sugeria que eu escrevesse sobre o mesmo. Apesar de já
tê-lo assistido em outra oportunidade, me emocionei com a apresentação e
com a possibilidade de visualizar claramente, em atitudes, a humildade e
a arrogância dos seres humanos.
O
jovem entrou no palco vestido de uma calça larga escura, uma camiseta
preta com desenhos verdes no peito e tênis. Ao dizer que se chamava John
Lennon da Silva provocou um comentário sarcástico de uma jurada, que
disse já haver ouvido esse nome e outro disse que sabia ele era muito
famoso e amigo do Paul e do Ringo.
Ao explicar que iria dançar, ela, em tom
de gozação e apontando para suas roupas perguntou: assim? O rapaz
timidamente respondeu que sim, que aquela roupa era do seu cotidiano e o
que interessava era que iria apresentar o "Lago dos Cisnes", numa nova
coreografia, baseada em Street Dance, a dança de rua dos jovens.
Ela insistiu, dizendo esperar que ele
fizesse uma boa apresentação, pois aquele figurino não tinha 'nada a
ver'. Outro perguntou se ele conhecia a peça em sua versão original, que
era de um cisne se debatendo, agonizando até o final e executado nas
pontas dos pés, por uma bailarina vestida toda de branco.
A arrogância desses jurados era visível,
imaginando-se os únicos conhecedores da peça, quase chamando de
ignorante o rapaz, simplesmente porque estava vestindo roupas comuns e
pretas, humilhando-o com suas perguntas e não acreditando que alguém tão
simples, vestido daquela maneira, pudesse apresentar algo que valesse a
pena ser assistido por quem já viu a peça original, com todo o seu luxo
e esplendor.
Depois de autorizado o rapaz iniciou sua
apresentação e os jurados logo perceberam tratar-se de um gênio, tanto
da dança quanto da coreografia. Seu corpo expressava,
incontestavelmente, sem nenhuma possibilidade de dúvidas, movimentos de
dor, angústia, do debater nos últimos momentos do Cisne.
O silencio e admiração dos jurados se
fazia notar em seus olhares que agora viam algo por eles nunca
imaginado, ainda mais vindo de um simples John, sem nenhuma vestimenta
ou cenário apropriado para a grandeza da apresentação que realizava,
diante de seus próprios olhos.
Ao término da apresentação, os dois
homens e uma mulher sentada entre eles, estavam pasmos. Um, estava de pé
e perguntando, ouviu do jovem que tinha 20 anos e era o próprio
coreógrafo daquela versão. O que havia questionado se o rapaz conhecia a
apresentação original estava chorando, com lágrimas escorrendo pelo
rosto e não conseguia falar sequer para dar sua nota. Incrédula, a
jurada retornou a palavra ao outro.
Ainda em pé, este se dirigiu ao jovem
dizendo ser ele de uma grandeza rara, que sua apresentação foi
emocionante e sugeriu que continuasse buscando novas maneiras de mostrar
coisas já conhecidas e desejava que os telespectadores tivessem
percebido a dimensão daquela apresentação e sentido a emoção que ele
sentiu.
Infelizmente a grande maioria das pessoas
sempre prejulga aqueles que não conhecem, antes mesmo de ouvir deles
uma só palavra, muito mais pelo que podem ver, do que pelo que realmente
eles são.
Nada questionam sobre seus conhecimentos,
capacidade, experiência e cultura. Só vislumbram jóias, relógios,
carros, casas, roupas, enfim, ostentação.
Os inteligentes, cultos, educados e
muito capazes, nunca ostentam seus predicados e com sua humildade,
acabam superando os arrogantes.
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