1) Os casamentos entre os religiosos são armados, e os noivos se conhecem apenas no dia da cerimônia?
Falso: Existiu uma época — restrita a algumas linhas religiosas empequenas comunidades — na qual os casamentos eram pré-acertados entre os ‘chefes’ das famílias. Porém, a lei judaica determina que os candidatos a noivo e noiva devem decidir juntos, através de encontros e conversas, se os respectivos cônjuges em potencial parecem ser um bom par para formar uma família. Para que o casamento aconteça, há uma determinação bem clara de que deve haver também necessariamente uma atração física, caso contrário não seria recomendável casar com esta pessoa. O ‘casamento arranjado’ não permite com que se avalie estas condições, portanto não é aceito e não deve ser realizado.
2) No Shabat, utilizar o ‘timer’ para programar o acendimento e apagamento da luz, para deixar o fogão ligado, e outros, é uma forma de dar um ‘jeitinho’ e burlar a religião?
Falso: Um olhar superficial dá margem de fato a essa interpretação. Aquele que ainda não teve a oportunidade de dedicar um tempo para estudar mais a fundo as leis no judaísmo tem a impressão de tratar-se de um ‘jeitinho’. Mas, tracemos aqui um paralelo (guardando as devidas proporções, evidentemente) com um paciente que recebe uma prescrição médica. Nós, leigos, muitas vezes não conseguimos entender o que motiva certas determinações médicas, já que não possuímos suficiente embasamento teórico para julgar cada caso. Nas decisões em relação às leis judaicas o mesmo acontece. O Talmud é um compêndio bastante extenso de leis da Torah, constituído de inúmeras deliberações rabínicas e conclusões diver sas a respeito de casos narrados em detalhes. Somente um exímio estudioso do Talmud (o chamado ‘talmid chacham’) tem as ferramentas necessárias para aplicar estas conclusões aos dias de hoje (não reformá-las e sim adaptá-las com fundamento). O processo de acender uma luz equivale ao processo de acender uma chama. Portanto, a lei relativa ao acendimento de luz elétrica é extraída das leis sobre o fogo que constam do Talmud. Quando se deixa o timer programado antes do shabat, durante o shabat nenhum comando de "criação" está sendo feito, já que o mesmo já foi feito de antes e com isso, todo o funcionamento em potencial já foi programado de antes. Não cabe explicar aqui em detalhes as deliberações relativas a essa lei específica, porém deixemos claro que há discussões bem densas e complexas que levam à deter minação final; e não um mero ‘jeitinho’.
3) Subir escadas e andar um kilômetro até a sinagoga é mais trabalhoso que andar de carro e usar o elevador (o que sabemos que no Shabat não podemos fazer). Porém, se o Shabat é feito para descansar, logo não haveria problema em dirigir o carro até a sinagoga ou utilizar o elevador?
Falso: Não se pode. O que a Torá chama de descanso não é exatamente o que nós conhecemos por ‘descanso.’ As leis referentes ao cumprimento do Shabat permitem organizar todas as cadeiras, na sala para receber os convidados, mesmo que elas sejam pesadas, e por outro lado é proibido carregar até mesmo uma agulha para o lado de fora de um ambiente fechado (em locais onde não há ‘eruv’ — espaço delimitado nas ruas por um marcador físico caracterizando um espaço cercado). O que o judaísmo proíbe no Shabat é o ato de criar. ‘Não criar nada novo’ seria uma definição aproximada para o descanso espiritual do Shabat. Costuma-se comer três refeições, ir para a sinagoga e dar uma ‘cochilada’ durante a tarde, estudar, ler, ficar com a fam&iacu te;lia. É, de fato, uma alteração na rotina, e acaba se transformando em um descanso espiritual, físico e mental, uma pausa nos assuntos mundanos para dar lugar a momentos em família.
4) Melhor ir à sinagoga de carro no Shabat do que ficar em casa rezando só, sem poder dirigir?
Falso: Ir a sinagoga de carro como parte de um processo de ‘teshuva’ (retorno às raízes), onde a pessoa não sabe que está equivocado, e entendendo que eventualmente deve-se deixar de fazê-lo , é entendível. Porém, pensar que seria uma mitzvá ir para a sinagoga de carro em Shabat, e fazer disso uma rotina, uma tradição, está em desacordo com as leis da Torá; e nesse caso é bem melhor ficar em casa. Se o indivíduo mora longe da sinagoga, a uma distância não-caminhável, melhor rezar em casa, sem ‘stress’. Rezar em um minyan (quorum com 10 pessoas) em uma sinagoga não é uma obrigação da Torá, mas cumprir o Shabat de acordo com as regras estabelecidas, isso sim é o principal.
5) Ensinar o seu filho desde cedo a rezar, a fazer as brachot para comer, ensiná-lo a cumprir tudo desde cedo, é uma forma de manipulação e programação comportamental, privando a criança de critérios para uma escolha equilibrada ao crescer?
6) É hipocrita aquele que, durante toda a sua vida, tenha se assimilado, e tenha vivido de forma totalmente laica, e que, ao descobrir uma doença fatal — e ao saber que tem seus dias contados — ‘retorna a Deus’ e se torna-se religioso?
Falso: Uma decisão feita com base no medo da morte, e para isentar-se de culpa caso realmente Deus exista e a Torah seja verdadeira, é perfeitamente válida, caso seja sincera, e no momento em que seja tomada seja definitiva. A Torah afirma que o retorno ao judaísmo, mesmo que aconteça apenas por um minuto antes da morte, é uma aproximação de Deus totalmente legítima. É claro que restarão contas a serem prestadas, reencarnações talvez a serem cumpridas, mas esse retorno eleva bastante a condição da alma na pós-vida. Este indivíduo será considerado um baal teshuva. Um jovem de 22 anos, que está na flor da idade, em ‘plena forma’, e que decide inclinar-se para um modo de vida mais espiritualizado, tem um mérito também muito grande, possivelmente até superior, a julgar pela maturidade de suas decisões em tão tenra idade. E, do outro lado da moeda, a Torah também afirma que aquele que viveu como um religioso durante toda sua vida, e que renega a Torá até mesmo um minuto antes de morrer, sofrerá as consequências ao inverso.
7) Religioso faz contrabandos e cometem centenas de barbaridades?
Falso: O indivíduo que comete tamanha atrocidade não pode se considerar uma pessoa religiosa. O próprio termo preconiza o cumprimento com os preceitos básicos morais e éticos, como não roubar, não matar, não contrabandear (cumprir a lei do país). Logo, se o pseudo-religioso atua de forma equivocada, não se deve apontar o dedo para a religião, e sim para a pessoa que decide cumprir alguns mandamentos e deixar alguns outros de lado. Entretanto, aquele que se define como religioso, vestindo-se e identificando-se como tal, ao cometer um erro sofrerá consequências muito mais graves do que um não-religioso. A Torá chama este ato de ‘Hillul Hashem’, difamacão do nome de Deus. A sociedade tem, naturalmente, expectativas bem altas em relação um religioso, já que este decidiu c arregar a bandeira da moral e dos princípios. Determinados comportamentos incorretos darão margem a comentários do tipo “veja só, estes religiosos… prefiro não cumprir nada do que ser igual a estes hipócritas!” Ou seja, aquele que decide colocar kipá na cabeça deve estar consciente de que agora não representa mais um indivíduo isolado, e sim um representante oficial da coletividade.
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