Anita Waingort Novinsky
Licenciada em Filosofia e livre-docente em história pela Universidade de São Paulo. Especializou-se na França em História das Mentalidades e concentrou seus estudos sobre a Inquisição e Cristãos-Novos no Brasil. Foi professora visitante na École des Hautes Études em Sciences Sociales – Paris e nas Universidades norte-americanas Brown, Rutgers-New Brunswich, Austin, Texas. Atualmente dirige uma equipe de pesquisadores na Universidade de São Paulo que pesquisa a Inquisição no Brasil. É Presidente do LEI - Laboratório de Estudos sobre a Intolerância da Universidade de São Paulo e do Conselho Administrativo da Associação Museu da Tolerância de São Paulo. É coordenadora principal do Projeto Intolerância/Tolerância – Democracia e Cidadania, do Programa Institutos do Milênio – CNPq, onde também coordena o projeto Limites da Tolerância e Formas de Resistência – A Inquisição e a contra cultura no Mundo Ibérico (séculos XVI-XIX) e desenvolve a pesquisa Uma nova leitura sobre o pensamento do Padre Antonio Vieira: os judeus e a redenção do Mundo. Autora de oito obras sobre o tema da Inquisição.
1 - O que fez de mais importante em sua vida?
O mais importante que fiz em minha vida alem de constituir minha família, foi ter introduzido os estudos sobre os cristãos novos e a Inquisição na Universidade de S.Paulo e ter aberto na História do Brasil um capítulo novo, praticamente desconhecido, sobre o papel que os judeus,(marranos, anussim, cristãos-novos, conversos) representaram na construção e colonização deste país.Hoje,com as pesquisas realizadas em fontes primárias,esse fato não pode mais ser ignorado.
2 - O que lamenta não ter feito, ou ainda deseja fazer, de importante?
Há muita coisa que eu lamento não ter feito na minha vida.Uma delas, é não ter convivido mais tempo com meus filhos, e com as pessoas que amei. Para realizar as outras que eu lamento não ter feito, eu teria de viver muitas vidas.
3 - Diante da multiplicidade de disputas e conflitos étnicos e raciais se generalizando em todo mundo, você acha que a Humanidade caminha para tempos sombrios?
Lamentavelmente, os acontecimentos que temos presenciado no mundo não são muito promissores.Os grandes perigos são a xenofobia,os nacionalismos e o anti semitismo. O ódio aos judeus é apenas um dos sintomas dos tempos tenebrosos que vivemos.Se em alguns anos esses fenômenos crescerem,e todos os povos não compreenderem que tem de conviver amigavelmente e em paz, sucumbiremos todos como loucos.
4 - Você concorda com o balizamento estatal ou religioso nas opções e preferências pessoais de cada individuo, incluindo a comunicação, opção sexual, vestimenta, fumo e bebida?
A meu ver, todos os povos devem ter a liberdade de seguir os costumes, rituais e crenças de sua origem,uma vez que esses costumes não perturbem ou prejudiquem seus semelhantes. O Estado não tem o direito de impor maneira de vestir ou comportamento a um grupo estrangeiro,a não ser que seja uma lei de toda a nação.Se um país distante violar os direitos universais do homem,o mundo tem a obrigação de se manifestar e intervir., porque os direitos humanos foram idealizados para toda humanidade e não apenas para as nações ocidentais. Se a tradição de um povo o levar a cometer atos que mutilem o corpo humano e causem sofrimento, contra a vontade dessa pessoa, ou se violar o principio máximo que é a vida, as nações livres e democráticas do mundo tem a obrigação moral de interferir.
5 - Você concorda com o balizamento estatal ou religioso nas opções e preferências pessoais de cada individuo, incluindo a comunicação, opção sexual, vestimenta, fumo e bebida?
Caso eu vivesse numa sociedade totalitária e fascista, sem poder falar e escrever livremente, eu procuraria minar esse governo,criando movimentos clandestinos , esclarecendo através da palavra companheiros visinhos e colegas,mas sem armas e sem violência.Criaria um movimento de resistência, semelhante ao da segunda grande guerra, distribuindo panfletos secretos, mobilizando a juventude, fazendo-a compreender, como disse Walter Benjamin, que "privar o homem da palavra é o mesmo que privá-lo de pão.”
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