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31.10.10

LUZ DE MEL EM CAXAMBU

Escrevo essas linhas minutos antes de o carro do (jornal O) Globo passar aqui embaixo e seguirmos para Caxambu, onde ocorre, anualmente, o encontro da Anpocs, entidade que congrega cientistas sociais, antropólogos, sociólogos e etnólogos brasileiros, sempre com presenças também do exterior. Este ano as discussões estarão especialmente quentes, pois o encontro, de terça a quinta, ocorre na semana das eleições e haverá um seminário de avaliação do governo Lula. Caxambu me faz pensar também em meus pais, Leonardo e Iná, que passaram a Lua de Mel nessa região das águas, acho que em Cambuquira. Num tempo em que os trens cruzavam o país, tempo que mal presenciei e do qual, imagino, muitos dos que me leem têm saudades. Fui concebido, por sinal, num desses pousos de águas e fornos a lenha, lá por agosto de 1964, meses depois do golpe militar. Nasci em abril de 1965 e o judaísmo, a comunidade, a família, foram minhas referências mais fortes. Minha mãe, das mais iídiches entre as iídiches, sequer me deixava ir às colônias de férias dos movimentos sionistas de esquerda, de forma que cresci meio alienado do que ocorria no Brasil, e mais informado sobre o que acontecia no Oriente Médio ou o que acontecera no Leste Europeu. Felizmente, apesar de minha família não ter lá muito apreço pelo ativismo libertário, eu tive uma ótima educação literária, sobretudo quanto aos clássicos estrangeiros, indo alcanças as belezas pátrias (entre as quais Guimarães Rosa é quase uma bíblia sobre o universalismo) mais tarde. O (Carlos Heitor) Cony, amigo da família, a certa altura serviu como catalizador da minha consciência política, que enfim emergiu quando chegaram os anos de abertura política. Bom, malas prontas para Caxambu, vou indo renascer, como sempre, pois a vida é isso: um parto permanente, em que o gozo é sempre mais raro que a dor, mas, se a gente sabe viver, compensa. Um shalom das águas para todos.

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