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25.9.10

Sucot: Ética vs. Teologia


Que “o judaísmo é uma religião pouco religiosa”, pode-se dizer que é uma das poucas acusações feitas a nós com certa razão. O judaísmo sempre preferiu se concentrar mais no que cabe ao homem fazer do que na natureza de Deus. Mais na ética do que na teologia. A teologia é sempre um mistério, por definição. Entretanto, a ética é um mandato urgente, pois o mundo precisa da ação reparadora do homem para se aperfeiçoar. Segundo o Talmud, o próprio Deus diz: “Tomara que me esqueçam, mas fiquem com meus preceitos de ação”.

Na leitura do Shabat Chol Hamoed Sucot achamos uma das expressões mais contundentes a respeito disso. Moshé pede para conhecer o rosto divino ou o interior da divindade e Deus responde: “não poderá me ver um ser humano e continuar vivendo”. Depois Moshé pede para conhecer os caminhos divinos, a conduta divina, a ação que deveríamos imitar na nossa prática, e recebe uma reposta concreta e ativa: “Eu transmitirei toda a Minha bondade e perdoarei tudo o que for possível”. Segundo a religiosidade judaica, a teologia como ciência de Deus interessa ao homem, tanto do ponto de vista humano quanto divino, apenas na medida em que ensine como sermos melhores seres humanos.



O perdão e a natureza das segundas oportunidades
Nesta leitura da Torá, as tábuas que foram quebradas por Moshé ao ver o povo adorar a estátua do bezerro de ouro são substituídas por outras tábuas novas. Esta substituição tem todos os elementos do verdadeiro perdão reparador. Não apenas é perdoado o ato, mas também é restituído o que se perdeu no erro. Deus diz para Moshé: “Faça duas tábuas novas como as primeiras que quebrou”. A tradição inclusive conta que na arca se encontravam “as tábuas novas e também os restos das quebradas”. A restituição enfatiza ser uma segunda oportunidade que lembra assim os erros e pendências da primeira, pois só assim terá sentido como segunda. Sem rancor, sem vingança, a segunda oportunidade precisa da memória da primeira para ser um caminho de perfeição.



O desafio da alteridade
A descrição de Deus que se segue ao ato reparador é composta de treze atributos, adjetivos que indicam condutas de piedade e compaixão diante de quem não é perfeito e divino. O atributo divino principal que devemos tentar imitar é a capacidade de lidar com a diferença do outro. Ser eu para reconhecer o tu.



A divindade que não encobre e sim denuncia
No final da leitura aparece um resumo do principal de algumas regras conhecidas, entre elas a proibição da idolatria. Essa proibição é resumida como não fazer deuses de máscaras. A divindade no judaísmo não serve apenas para acalmar; e nunca para tampar ou criar falsas aparências. Pelo contrário, vem para denunciar as verdades da intimidade das almas, no mínimo diante de seus portadores. A divindade conecta-se à voz da verdade mais profunda de cada um.

Rabino Ruben Sternschein

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