Refiro-me, sim, à inquietação de saber que nada será como antes, no tempo do Grande Templo da Tenente Possolo, que minha família frequentara desde seus inícios no país. A sinagoga ainda existe e exibe sua beleza e monumentalidade.
Mas não está mais ali o Feigenbaum z’l, fazendo as vezes de rabino, dando socos no púlpito exigindo o silêncio da congregação que se comportava como na arquibancada do Maracanã, mas com um espírito bom, aquele da anedota do analfabeto que assovia para falar com Deus.
Poucos ali rezavam de verdade, mas todos assobiavam para uma força maior. O Feigenbaum só lembrava que tinha que haver um limite, então o silêncio se restabelecia por alguns minutos, até, num crescendo, a zona imperar de novo.
Tio Adolpho, um dos maiores beneméritos, tinha a cota maior de quem era chamado à Torá.
Adolpho, Arnaldo e Manchetinha
Fiquei décadas imaginando quando chegaria meu dia, e quando enfim subi, achei que não ia suportar o peso dos rolos, e senti-me humilhado diante dos velhinhos em jejum que seguravam Torás mais pesadas que a minha como verdadeiros guiborim, e era deles que eu extraía forças para não deixar o Pentateuco cair no chão (já imaginaram?).
Quando se aproximava então o toque do shofar e a criançada corria, para a escadaria baixa e larga diante do altar onde receberiam uma chuva de doces, era como rumo à liberdade. E então todos cantavam, juntos, como num grande coral, o Avinu Malkeinu com aquela melodia oriental, e eu sempre chorava e tinha a noção exata e maior do pertencimento a uma tribo, microcosmo da humanidade que um dia entrará em comunhão e a paz reinará.
Chag Sameach.
(Fonte: Notícias da Rua Judaica)
Nenhum comentário:
Postar um comentário