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1.8.10

Ekev


A Torá nos conta, na parashá desta semana, que Moshé jejuou nos dias que esteve falando com Deus no monte Sinai. Assim declarou Moisés: “Pão não comi e água não bebi (9:9, 9:18).

Na presença de Deus, nosso líder vivia uma experiência espiritual muito intensa. É compreensível que não tenha comido e também não tenha bebido. Sua concentração deveria ser tão grande que não teve tempo para pensar em suas necessidades físicas. Seu espírito estava sendo alimentado pelas palavras de Deus.

Segundo o midrash, existe algo muito interessante no fato de Moisés não ter comido durante sua visita às alturas celestiais. Nossos sábios nos explicam que Moshé não comeu e não bebeu porque agiu como os habitantes daquele lugar.

No céu não há comida e nem bebida. Os anjos de Deus não comem e não bebem e Moshé portou-se da mesma maneira. Não comeu e não bebeu. Em respeito aos habitantes do céu, Moisés aceitou aquilo que era o costume local e agiu como os anjos.

 Para reforçar esta tese, o midrash nos lembra de outra passagem bíblica. Quando anjos vieram visitar nossos patriarcas Avraham e Sara, foram recebidos com comida e bebida. Assim, temos um exemplo oposto. Anjos do céu quando descem a terra, também se comportam como os habitantes locais. Como o costume aqui na terra é de comer e beber, os anjos também comeram e beberam embora não fosse esta a prática vigente nas alturas celestiais.

Assim está escrito no midrash: Lá em cima (no céu), onde não há bebida e comida, subiu Moisés às alturas (para receber a Torá e não comeu); porém embaixo (na terra), onde há comida e bebida, desceram os três anjos (do céu à casa dos nossos patriarcas Avraham e Sara) e comeram, conforme foi dito: “e ele (Abraão) colocou-se com eles sob a árvore e comeram (Gên. 18:8)”.
Existe um conceito judaico que se chama minhág hamacom, o costume local. Segundo esta idéia, uma pessoa que visita outro lugar deve respeitar os costumes daquele local e agir como aqueles habitantes.

Assim, por exemplo, temos o costume de ficar em pé durante o Shemá Israel na nossa comunidade. Em diversas comunidades o costume é realizar essa oração sentado. Se alguém visita a CIP deve agir como nós fazemos. Se, da mesma forma, nós visitamos uma comunidade em que se recita o Shemá sentado, assim devemos fazer.

Esta forma de comportamento expressa o pluralismo de nossa religião. Acreditamos que existe mais de uma verdade. O que vale para mim não é, necessariamente, válido para os outros e vice-versa. Assim, quando eu sou convidado em outra cidade, outra comunidade ou outra família, devo abrir mão dos meus costumes e agir com flexibilidade. Em sinal de respeito àqueles que me recebem devo agir como eles.
Será que existe um limite para esta flexibilidade? É claro que sim. Não vou ajoelhar porque estou em uma Igreja ou uma Mesquita porque isto fere um princípio fundamental da minha religião.

Assim, é possível afirmar que o judaísmo prevê a criação de uma sociedade pluralista. Sociedade em que diversas verdades podem coexistir. Desta maneira, o indivíduo deve abrir mão de seus costumes quando se encontra entre pessoas que tem costumes diferentes. No entanto, valores fundamentais não devem ser abandonados em função da atitude de nossos anfitriões.

A interpretação dos rabinos do jejum de Moshé nos dias que esteve diante de Deus, no cume do Monte Sinai, nos traz uma importante lição. Nós também atingiremos o topo do Monte Sinai e encontraremos Deus no momento que interiorizarmos a lição de que diversas verdades podem coexistir sem que uma prevaleça sobre a outra. Nosso desafio cotidiano é buscar o equilíbrio e viver de forma pluralista. Se até os anjos comem quando nos visitam, nós podemos “jejuar” para estar mais perto de Deus.

Shabat Shalom.
Rabino Michel Schlesinger


"A mensagem sobre essa parashá explica a famosa frase do Grande Lubavitcher Rebe, Rabino Menachem Mendel Scheerson Z''L, 'o que o alimento é pro corpo, a oração é pra alma'. Boa, Rabino Schlesinger, há limites para respeito de costumes, é verdade! Ainda nos veremos novamente, Rabino!"

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