POR LEONEL KAZ
Nossa pátria é a palavra. É o território em que nos movemos. Quando a perdemos, perdemos nossos sentidos. Nossos desejos.
O incêndio devastador na Estação da Luz revela dois dramas. O primeiro, físico, que é a destruição da estação, monumento arquitetônico a exemplo de modelos europeus como a Gare D’Orsay — que hoje acolhe um dos principais museus da França. Sua destruição simboliza um processo também devastador de abandono do trem e do bonde, iniciado sob a bandeira do progresso a qualquer custo nos anos JK, sempre em nome da novidade do momento: na época, o carro nacional.
O segundo drama é a perda simbólica do Museu da Língua Portuguesa, que iniciou, há uma década, a série de museus de nova geração desenvolvidos pela Fundação Roberto Marinho junto com governos e prefeituras. Reitero o termo: simbólica, porque são museus que podem renascer a partir de arquivos, já que não possuem acervo (o do Futebol ostenta uma única camisa de Pelé, da final do tricampeonato de 1970).
O Museu da Língua Portuguesa, o do Futebol e o do Amanhã são museus de alta tecnologia, interessados em capturar o frescor e o espírito de descoberta do visitante. Museus para se entrar de corpo inteiro, tridimensionalmente, com todos os sentidos despertos. E sair de lá revigorado; daí o sucesso de público desta fórmula de recontar a história cotidiana, recontar a fábula de nossas vidas.
O do Futebol reconta a história do Brasil por meio de nossa paixão pela bola. O Museu da Língua Portuguesa reconta a história de nossa formação e fusão por meio de corpo, gestos e palavras. Já o do Amanhã conta a história da vida e dos homens presentes, para que possamos apurar, entre acasos, o que podemos escolher como destino. Enfim, são museus que dizem o que somos, quais nossos orgulhos e virtudes.
A criação destes museus atende o clamor de nossa época, que já entende o mundo a partir de novas tecnologias, interatividades, jogos lúdicos. Todo o conteúdo resultante da apurada pesquisa de imagens fotográficas, filmes, gravações resulta num arquivo. É este arquivo que passa a ser um acervo, não apenas da memória, mas da razão de ser de cada museu.
Se no incêndio do Museu de Arte Moderna do Rio, em 1978, assim como no recente do colecionador Boghici, perderam-se obras-primas da pintura e escultura (aquilo que denominamos de acervo tradicional), no Museu da Língua, onde ele vier a existir, continuará vivo seu coração pulsante: o arquivo em back-up é o sobrevivente — o amanhã do Museu! Por isso, o museu vai ficar de pé já já, para que volte a frutificar o que temos de mais poderoso: nossa fala, expressão sincera, fruto de nossa mestiçagem.
Lamento ter escrito este texto com palavras. Deveria tê-lo escrito com lágrimas.
O incêndio devastador na Estação da Luz revela dois dramas. O primeiro, físico, que é a destruição da estação, monumento arquitetônico a exemplo de modelos europeus como a Gare D’Orsay — que hoje acolhe um dos principais museus da França. Sua destruição simboliza um processo também devastador de abandono do trem e do bonde, iniciado sob a bandeira do progresso a qualquer custo nos anos JK, sempre em nome da novidade do momento: na época, o carro nacional.
O segundo drama é a perda simbólica do Museu da Língua Portuguesa, que iniciou, há uma década, a série de museus de nova geração desenvolvidos pela Fundação Roberto Marinho junto com governos e prefeituras. Reitero o termo: simbólica, porque são museus que podem renascer a partir de arquivos, já que não possuem acervo (o do Futebol ostenta uma única camisa de Pelé, da final do tricampeonato de 1970).
O Museu da Língua Portuguesa, o do Futebol e o do Amanhã são museus de alta tecnologia, interessados em capturar o frescor e o espírito de descoberta do visitante. Museus para se entrar de corpo inteiro, tridimensionalmente, com todos os sentidos despertos. E sair de lá revigorado; daí o sucesso de público desta fórmula de recontar a história cotidiana, recontar a fábula de nossas vidas.
O do Futebol reconta a história do Brasil por meio de nossa paixão pela bola. O Museu da Língua Portuguesa reconta a história de nossa formação e fusão por meio de corpo, gestos e palavras. Já o do Amanhã conta a história da vida e dos homens presentes, para que possamos apurar, entre acasos, o que podemos escolher como destino. Enfim, são museus que dizem o que somos, quais nossos orgulhos e virtudes.
A criação destes museus atende o clamor de nossa época, que já entende o mundo a partir de novas tecnologias, interatividades, jogos lúdicos. Todo o conteúdo resultante da apurada pesquisa de imagens fotográficas, filmes, gravações resulta num arquivo. É este arquivo que passa a ser um acervo, não apenas da memória, mas da razão de ser de cada museu.
Se no incêndio do Museu de Arte Moderna do Rio, em 1978, assim como no recente do colecionador Boghici, perderam-se obras-primas da pintura e escultura (aquilo que denominamos de acervo tradicional), no Museu da Língua, onde ele vier a existir, continuará vivo seu coração pulsante: o arquivo em back-up é o sobrevivente — o amanhã do Museu! Por isso, o museu vai ficar de pé já já, para que volte a frutificar o que temos de mais poderoso: nossa fala, expressão sincera, fruto de nossa mestiçagem.
Lamento ter escrito este texto com palavras. Deveria tê-lo escrito com lágrimas.
* Leonel Kaz foi curador do Museu do Futebol e fez a concepção inicial do Museu do Amanhã
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