Na internet encontrei uma frase, de autor
não informado, que apesar de há muito conhecida, novamente me chamou a
atenção: "A água nunca discute com seus obstáculos, apenas os contorna."
Como tudo o que me chama a atenção
ultimamente têm me levado a reflexões, a frase relida agora provocou a
realização de uma enorme auto-crítica.
O tipo que não leva troco para casa, não
deixa nada sem resposta, pavio-curto e todas as tradicionais descrições
do tipo, descrevem bem como sempre me comportei durante a vida.
Depois de refletir bastante cheguei à
conclusão que o confronto, que normalmente leva à discordâncias, debates
e invariavelmente acaba sem convencimentos, praticamennte nunca valeu a
pena.
Não me lembro de oportunidade alguma em
que a discução, por qualquer motivo, realmente tenha levado a uma
situação de equilibrio e consenso real sobre o tema em questão.
Pontos de vista, ideologias, propostas e
ambições diferentes são comuns entre os seres humanos e não são
alterados diante de um simples debate onde algo diferente se apresenta.
Regimes políticos e econômicos, modelos
administrativos ainda são discutidos pelos homens sem que haja consenso
nem mesmo no caso de redundantes fracassos anteriores.
Apesar de muitos entenderem que toda a
unanimidade é burra, penso que burra é toda a generalização, como
algumas que já foram tentadas por poucos, a exemplo da tese de
superioridade racial.
A unanimidade, o consenso e a generalização ainda não foram possíveis sequer sobre a melhor posição de parto.
Os pensamentos continuam fluindo e me
levam a outros questionamentos, como o que me fez passar mais de meio
século de vida sem perceber essa simples realidade.
A ousadia, inexperiência e arrogância do
jovem que pensa saber tudo, que irá consertar o mundo e todas as outras
possibilidades comuns aos pensamentos de quem só a vida ensinará, não me
bastaram como justificativa, uma vez que pelo menos cronologicamente há
muito já passei -ou deveria ter passado- por essa fase. Deveriam
existir outros motivos para minha demora nessa descoberta.
A água contorna a pedra sem que isso
signifique o abandono da disputa por aquele espaço. Esse desvio provoca
seu polimento, que fica mais leve e é arrastada para a margem,
desocupando o espaço antes ocupado e permitindo a passagem da mesma pelo
local, mas isso também levou muito tempo.
Com a vida o homem vai percebendo que
ousadia, arrogância e pretenções vão sendo diminuidas e que cada vez
mais ele precisa abrir caminho para os que já sabem mais, possuem mais
pique, preparo ou inteligência e entendo já estar aceitando bem essa
idéia que percebo, será muito útil nas poucas décadas que ainda me
restam.
Os que viverem por mais tempo terão o
privilégio de serem polidos o suficiente para, chegado o momento,
permanecerem à margem, sábia e passivamente, vendo a vida passar e
ensinando os que querem aprender.
Obstáculos, que de uma maneira ou de
outra devemos superar, nos são apresentados durante toda a vida, até o
último que, sem solução, nos levará e, portanto, só nos resta decidir
'como' serão superados.
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