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29.5.11

LOBATO E FREYRE: DUAS FACES DO PRECONCEITO

Com mediação do jornalista Andre Nigri, da Revista Bravo, aconteceu nesta quinta um debate sobre o racismo na obra de Monteiro Lobato no Centro de História e Cultura Judaica de São Paulo, no evento mensal conhecido como Café Bravo. Infelizmente tive que fechar este texto antes do debate. A revista, dedicada à cultura e dirigida a um público segmentado, publicou na última edição uma reportagem de capa com um dossiê completo sobre as cartas trocadas entre Monteiro Lobato e vários amigos eugenistas, pregando o racismo mais repugnante e a "pureza da raça branca", a ponto de lamentar a não existência, no Brasil, de uma Ku Klux Klan. A reportagem da revista teve como gancho uma edição da Logo/A página Móvel, seção que edito no Jornal O Globo. Meses atrás, durante o carnaval, no auge da polêmica em torno do  tão querido escritor brasileiro - quando algumas vozes davam como verdade absoluta que o mesmo não era racista - levei a público uma série de t extos seus, a maioria publicados em livro, expondo seu verdadeiro pensamento. Aos que argumentavam que o racismo era comum na época, respondi que comum não significa hegemônico. Na reportagem da Bravo, André Nigri seguiu o rastro e descobriu novos textos, aprofundando ainda mais a discussão, e demonstrando que muitas figuras de grande porte intelectual do tempo de Lobato - como Cecília Meirelles - declaravam repulsa a toda a forma de preconceito racial. Para o debate, preparei uma outra variável que costuma ser tabu entre acadêmicos e historiadores: o antissemitismo de Gilberto Freyre, apontado inclusive por autores insuspeitos e sem vínculos especiais com a comunidade judaica, como darcy Ribeiro, num dos prefácios de Casa Grande & Senzala. Quem pela primeira vez me chamou atenção para isso foi meu saudoso tio Hélio Bloch, que me entregou um original marcado com os trechos mais chocantes. À época escrevi um artigo no Globo sob o título "O judeu de Apipucos", tendo como mote as recentemente descobertas origens judaicas de Freyre, em contraponto à suas ignomínias contra o povo de Abraão: o que diria se ele soubesse dessa herança? Num momento em que o mundo busca acentuar semelhanças em meio às diferenças, apontando para um futuro em que ambas tenham peso igual nas relações entre os povos, é sempre importante traçar tais paralelos, que unem judeus a outros grupos humanos que foram perseguidos através da história. Pois, ao contrário do que muitos apregoam, os horrores do pasado ainda estão vivos, não somente na memória, mas nos impulsos que ainda impedem que uns e outros se olhem como pares. E os judeus não estão livres desse tipo de sentimento, como todos nós sabemos, pois ouvimos atentamente não apenas as palavras sábias de nossos pais e avós, mas também aquelas que nos provocaram, dependendo do caso e do ouvinte, revolta e inconformismo. Na semana que vem, dou notícias de como foi o debate em São Paulo. Grato pela leitura, deixo meu abraço a todos e meu Shalom.

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