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6.3.11

Os irmãos Coen e o judeu errado

Vi esta semana o western "Bravura indômita",  novo filme dos Irmãos Coen, talvez os mais prestigiados nomes da direção cinematográfica no mundo inteiro e também em Hollywood nos dias de hoje, o que é ótimo, pois sua obra sempre privilegia a originalidade narrativa e temática. Mas, embora este filme concorra ao Oscar em várias categorias,  quero falar do anterior, "Um homem sério", o único da dupla que tem temática explicitamente judaica. O filme abre com uma cena de 20 minutos que se passa num sthetl e é toda falada em iídiche (descrevendo diálogo de um casal com um rabino que pode ser um dibuk, segundo desconfiança da mulher) e, na sequência, se passa nos dias de hoje, contando a história de um personagem bem judaico, à Scholem Aleichem: aquele sujeito com quem tudo dá errado. Para entender o que se passa com a sua vida, o protagonista, então, recorre a vários rabinos de diferentes tendências. À medida que os ouve, contudo, a confusão de sua mente e de sua vida só aumenta. Para além do humor irresistível, os Coen, neste longa, parece que estão falando de algo que é inerente à cultura judaica e que só a valoriza: a diversidade de visões, opiniões, pontos de vista.  O próprio Talmude, texto tardio, com suas múltiplas interpretações e sentenças de diferentes sábios, mostra que, na prática do dia-a-dia, via tradição oral, o ensinamento da Torá não esgota as verdades. Muito pelo contrário, ele as complexifica! Por isso os judeus discordam tanto entre si, o que é desejável, rico, democrático, e é um espelho da diversidade que rege a sociedade como um todo, judaica ou não. Quando um judeu não reconhece esta riqueza, preferindo pregar a ideia de que, como numa máfia, é necessária, entre os judeus, a proteção mútua, o silêncio, o alinhamento automático a qualquer erro, ele está traindo o seu próprio pertencimento ao todo humano: se um judeu não pode apontar para o outro e evidenciar seu erro pelo fato de ele ser judeu,  ele autoriza um observador "de fora" a adquirir a crença de que o judeu se crê intocável, melhor, superior, imune. É o tipo de postura que semeia a discriminação, sob a justificativa de evitá-la.


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