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8.12.09

Brás: Observação e Respiração (Patrícia Macedo)


"Ufa! Sentei. Não quero mais saber de nada." Isso é o que eu penso toda vez que pego a última condução do dia. Pena que ficar com a cabeça vazia é uma tarefa quase impossível no meu caso. Após cinco minutos, uma enxurrada de pensamentos invade minha mente. Obrigações, frustrações, desentendimentos e o metrô lotado.

Ah o metrô! Essa talvez seja a lembrança mais pavorosa da semana. Corpos que se chocam, rostos que não disfarçam noites mal dormidas e a sensação de que, mesmo com o trânsito colossal da cidade de São Paulo, todos gostariam de estar em um carro naquele momento.

Eu que pego a linha dos extremos, Corinthians - Itaquera/Palmeiras - Barra - Funda, sei que a parte mais temida dessa rota é a estação do Brás. Ela serve como passagem para o meu destino em São Bernardo do Campo, o famoso B do ABC paulista, onde estudo. Apesar da cidade não ter estação de trem, desço em São Caetano do Sul e de lá pego um ônibus até minha faculdade. O percurso assusta, mas vale a pena.

De qualquer forma, eu e cerca de 450 mil pessoas encaramos o Brás diariamente, tarefa que não é fácil. Para ter uma idéia, lá ninguém precisa se locomover ao sair do vagão, é simplesmente empurrado; não há perigo de cair porque um corpo na horizontal ocuparia muito espaço e se você respirar, tome cuidado, alguém pode alegar que você está roubando o oxigênio alheio.

Não parece uma cena agradável, mas para fora daquele tumulto há uma paisagem tranquilizadora que alcança o norte, sul, leste e oeste de São Paulo. Muitas vezes aquela imensidão de prédios cobertos pelo contraste entre luz e sombra é o que me dá fôlego para continuar. Caso a paisagem seja vista à noite, não há problema, um aglomerado de pontos luminosos supre a ausência dos raios de sol.

Quando descobri essa curiosa faceta do Brás estava em um péssimo dia, resolvi comprar uma casquinha, parar e simplesmente observar. Observei durante um bom tempo e o que era um grande problema se perdeu entre aquele emaranhado de ruas. Percebi que aquela gigantesca cidade tinha trilhões de janelas que guardavam milhões de vidas com milhares de dificuldades, iguais, menores e maiores que as minhas.


(Primeira crônica feita na oficina "Olhares de São Paulo - Crônicas" - sob orientação do Professor Alan Viola - a ser impressa na programação do Centro Cultural São Paulo - Novembro/2009)

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