Situação de calamidade após desastre natural revela para todo o mundo que a Missão da ONU, já há 5 anos e meio no Haiti, não tem resolvido problema algum, senão garantido a perpetuação de um sistema de exploração e miséria de todo um povo. | |
Todos ficamos chocados com as notícias e imagens que chegam do Haiti desde o dia 12/01, quando um forte terremoto destruiu a capital e várias cidades do país. As agências de notícia internacionais já falam em 70 mil corpos queimados e enterrados em valas comuns. Alguns analistas falam em cifras de 100 mil mortos, outros 200 mil e há os que falam em 500 mil mortos. Cerca de 3 milhões de haitianos estão desabrigados neste momento, um terço do país! Também chegam notícias de que “aumenta a violência”. Repórteres relatam que a população sobrevivente faminta e sedenta começa a saquear estabelecimentos comerciais em busca de comida.
Mas, por que uma semana depois do terremoto os haitianos sobreviventes estão sendo levados a saquear armazéns em busca de comida se a imprensa fala em congestionamentos no Aeroporto de Porto Príncipe com cargas de comida, remédios e água que chegam de todos os cantos do mundo para as vítimas do terremoto? A verdade é que a ajuda que chega, em grande parte, não está sendo distribuída aos desabrigados!
A grande quantidade de ajuda que chega ao Haiti demonstra que os povos de todo o mundo são solidários. Isso desmonta os argumentos daqueles que buscam atribuir à “natureza humana” a causa das injustiças e desigualdades por todo o mundo. A humanidade está pronta para a solidariedade, para a cooperação. O obstáculo é o sistema da competição entre os indivíduos, o sistema da propriedade privada dos meios de produção: o capitalismo. E é a serviço do capital que as condições de vida no Haiti estavam já tão rebaixadas antes do terremoto, o que maximizou as conseqüências da catástrofe natural. E é a serviço do capital também que estão as tropas da ONU. Afinal, ao invés de os EUA enviarem mais 11 mil soldados armados ao Haiti para “fazer frente ao problema da violência” e “garantir um ambiente seguro”, não deveriam as tropas da ONU estar empenhadas em distribuir os mantimentos que chegam de outros países? E nas regiões onde o acesso é mais difícil, não deveriam os próprios soldados tomar a frente e abrir os armazéns onde há comida e distribuí-la aos sobreviventes? O relato de um estudante brasileiro que estava no Haiti antes, durante e depois do terremoto, com um grupo de pesquisadores de antropologia da Universidade de Campinas (Unicamp), não poderia ser mais claro:
Missão de paz ou Ditadura Militar Estrangeira? A MINUSTAH (Missão das Nações Unidas pela Estabilização no Haiti), apelidada de “Missão de Paz”, teve início depois de que o exército americano invadiu o país em 2004 e raptou o presidente eleito em 2000 pelo povo haitiano. Jean Bertrand Aristide hoje exilado na África do Sul continua impedido pelos EUA de voltar ao Haiti, apesar das massivas manifestações de centenas de milhares de haitianos nas ruas de Porto Príncipe nos últimos anos exigindo a sua volta. Depois do golpe militar de 2004 executado pelo exército estadunidense, as tropas da ONU - comandadas pelo General Floriano Peixoto Vieira Neto (Brasil) e compostas por efetivos militares de 18 países - nada mais são do que tropas de ocupação que servem para reprimir o povo haitiano, impedindo-o de se organizar, de se mobilizar, de ter voz, garantindo assim a “paz” para que as empresas americanas, canadenses, dominicanas possam explorar a mão de obra haitiana em regime de trabalho semi-escravo. A “estabilização” que a ONU busca se dá em resposta às fortes mobilizações populares que empurravam o Governo de Aristide a romper com a cartilha do FMI e atender aos anseios do povo trabalhador. Com razão os haitianos questionam: “Como a MINUSTAH poderia ser uma força de estabilização do Haiti se a ONU não está fazendo nada para acabar com a pobreza desse país? Como teremos estabilidade num país faminto?” E não é a primeira nem a segunda vez que a população de Porto Príncipe, principalmente de sua área mais pobre, a grande favela chamada Cité Soleil, é levada a saquear supermercados em busca de comida. Antes do terremoto, os haitianos estavam já acostumados a enfrentar outra força da natureza: os furacões. Nos últimos anos foram dezenas de furacões que devastaram cidades importantes da ilha, deixando a população em situação semelhante. Agora as proporções são maiores porque o terremoto atingiu a capital, que é a região mais povoada do país. Mesmo assim, nas ocasiões anteriores, as tropas da ONU responderam da mesma forma: defenderam a propriedade privada dos supermercados e armazéns e reprimiram a população faminta. Além disso, também nas catástrofes causadas pelos furacões, a “ajuda humanitária” custa a chegar aos sobreviventes. Em 2004, Gonaives, principal cidade da região norte, atingida pelo furacão Jeanne, foi soterrada por uma enxurrada de lama de 3 metros de altura: quase 3 mil mortos! Isso ocorreu logo após a ocupação militar da ONU. O governo interino da época bateu todos os recordes de corrupção: os sobreviventes – que tinham perdido todos os seus bens – tinham que pagar (!) pela carteira de identidade que dava direito à ajuda aos desabrigados. Muitas ONGs receberam grandes quantias de dinheiro de ajuda humanitária internacional, mas ninguém sabe onde esse dinheiro foi parar, conforme podemos ver no relato do haitiano Wadner Pierre para o portal HaitiAnalysis.com, de Set/2008, pela ocasião de outros 4 furacões que atingiram a ilha:
Mas não é só quando ocorre um desastre natural que a população haitiana precisa de ajuda. A fome é uma constante no país mais pobre das Américas. Vejamos o que já dizíamos num artigo de 2008:
Claro que com uma catástrofe como essa causada pelo terremoto as coisas pioram ainda mais. Relatos da Cruz Vermelha indicam que 6 dias após o terremoto o preço do pãozinho havia dobrado em Porto Príncipe e que “a busca de corpos parece ter terminado, enquanto as pessoas buscam entre os escombros qualquer coisa que possa ser útil ou comida”. Por outro lado, a situação que se arrastava antes do terremoto já poderia ser classificada como catastrófica. E as tropas da ONU servem para manter tal situação! Segundo o conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), Aderson Bussinger Carvalho, a ocupação militar internacional sob comando do Brasil “tem interesses de explorar a mão-de-obra haitiana através de zonas francas”. De acordo com o sindicalista haitiano Raphael Dukens, “nas zonas francas, os sindicatos estão impedidos de atuar pelas tropas da ONU e os trabalhadores não podem se organizar em seu local de trabalho”. As jornadas de trabalho muitas vezes ultrapassam as 12 horas diárias e o salário em geral não passa de 120 dólares mensais. Empresas de capital americano, canadense e dominicano fazem a festa. Sindicatos haitianos denunciam o aumento de maquiladoras no país. Empresas brasileiras já se interessam em criar unidades no Haiti para exportar produtos aos Estados Unidos. Isso explica a comitiva de empresários que o presidente Lula leva ao Haiti em suas visitas. Entretanto os operários fabris somam apenas 3% dos trabalhadores ativos no Haiti. A grande maioria está nos setores informais e trabalhando no campo, onde a precarização do trabalho é ainda pior. Não raro há mortes no campo por excesso de trabalho. Ainda resta alguma dúvida a que interesses serve a “Missão de Paz” da ONU? Para quem ainda acha que a ONU quer o melhor para o povo haitiano, sugerimos que assistam ao vídeo abaixo produzido pelo Haiti Information Project em 2007, que mostra a ação assassina da MINUSTAH contra a população pobre de Cité Soleil. (para assistir ao vídeo, acesse este link: http://video.google.com/videoplay?docid=-6353604084333423510 ) O vídeo não deixa dúvidas. Os depoimentos dos haitianos e dos jornalistas presentes no Haiti são contundentes. Já a grande mídia chama as ações da ONU de “pacificadoras”. Segundo a Reuters, “A pacificação de Cité Soleil foi uma das poucas vitórias do presidente René Préval desde que assumiu o cargo em 2006” (Reuters, 17/01/2010). Para não restar mais dúvida alguma, vejamos o que disse numa entrevista concedida em 2009, o Diretor do Comitê Democrático Haitiano, Henry Boisrolin, ao portal argentino Resumen Latinoamericano:
Mas os que buscam resistir, organizar mobilizações contra a ocupação militar imediatamente são criminalizados, rotulados como traficantes, contrabandistas, seqüestradores; são perseguidos, presos, torturados e desaparecidos, como num autêntico regime fascista. Assim como no Brasil a polícia trata os moradores das favelas e comunidades mais pobres sempre como suspeitos. Vejamos o que disse numa coletiva um enviado especial da ONU:
Ajuda humanitária Henry Boisrolin, Diretor do Comitê Democrático Haitiano, deixa claro em entrevista de 2009, qual é a ajuda de que necessitam os haitianos:
Enquanto o governo dos EUA anunciava o envio de mais 10 mil soldados armados ao Haiti, 2 dias após o terremoto, Fidel Castro explicava que os 400 médicos cubanos enviados no dia seguinte ao terremoto já estavam salvando vidas em diversas cidades do Haiti. Os primeiros aviões a chegar com medicamentos, comida, médicos e bombeiros foram os venezuelanos. Mas hoje, 19/01, o Conselho de Segurança da ONU decidiu enviar mais 3.500 soldados da MINUSTAH! A que serve essa decisão? Pra que enviar soldados armados para um lugar onde são necessários médicos, comida, água, engenheiros, professores?! A ONU fez um apelo aos governos de todo o mundo pedindo que contribuíssem para somar uma quantia de US$ 575 milhões para ajudar o Haiti após o terremoto. A ONU acaba de anunciar que já arrecadou 19% disso, ou seja: US$ 110 milhões! É aí que caem todas as máscaras dos capitalistas e dos defensores deste sistema podre. Todos acabamos de acompanhar o desenvolvimento da crise mundial: em poucos meses os governos capitalistas e seus bancos centrais doaram a um punhado de banqueiros mais de 15 trilhões de dólares de dinheiro público! Com esse dinheiro seria possível alimentar para sempre milhares de Haitis inteiros. E pra que precisamos de ONGs? Para desviarem dinheiro como fizeram no Haiti em 2004?! Há dinheiro e recursos para toda a população da Terra! Para salvar meia dúzia de banqueiros: trilhões de dólares! Para livrar da fome quase 1 bilhão de seres humanos no planeta: milhares de ONGs! E para o povo de um país destruído por um terremoto: mais tropas militares! Este é o presente do sistema que não reserva nenhum futuro pra humanidade. E todos eles choram. Diante das imagens da TV choram pelos milhares de haitianos que tiveram suas vidas levadas pelo terremoto. E os soldados fortemente armados com fuzis de alto calibre, tanques e helicópteros que eles enviaram antes para “pacificar” os haitianos, agora se travestem de heróis, de salvadores. Mas é por pouco tempo. Logo estarão pisoteando com suas botas as cabeças dos haitianos novamente. Porque eles têm medo de um outro tipo de terremoto. Um terremoto social que sacudiu o Haiti há mais de 200 anos. A única revolta de escravos vitoriosa desde a Antiguidade Clássica, que fez nascer a primeira República Negra do mundo! E cada vez que eles sentem um pequeno tremor, um pequeno sinal daquele terremoto, eles ficam desesperados e aumentam as tropas. E mandam bala! Mas a história é mais forte! Esse terremoto virá e será implacável. Deixará o capitalismo com suas crises, impostos, preços, ONGs, leis, taxas de lucro, tropas pacificadoras, maquiladoras, multinacionais, bancos, tudo sob escombros. (Para saber mais sobre a histórica luta do povo haitiano, leia este artigo) A luta continua: Fora tropas do Haiti! Para fazer frente a todos os problemas do Haiti é preciso planificar a economia, socializar a propriedade dos meios de produção e estabelecer a democracia dos conselhos de operários e camponeses. Com o socialismo mundial poderemos planejar a produção e a distribuição de tudo, de tal forma que todos poderão viver sem qualquer necessidade deixar de ser atendida. Até acabar de vez com o Estado e estabelecer uma sociedade sem classes: o comunismo! A fome se transformará em assunto dos livros de história. Não haverá mais guerras nem exploração. Mas para chegar lá é preciso começar lutando. E para lutar é preciso nos organizar. No Haiti, para os trabalhadores lutarem e se organizarem é preciso restabelecer minimamente os direitos democráticos. Urge a retirada da ditadura militar instalada pela ONU! Para além de toda ajuda aos sobreviventes pós-terremoto, urge que em todos os países desenvolvamos uma forte campanha pelo fim da ocupação militar no Haiti; pela retirada imediata das tropas da ONU e dos EUA! Devemos exigir:
São Paulo, 19 de Janeiro de 2010. |
20.1.10
Haiti: Terremoto desmascara 'Missão de Paz' da ONU
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