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21.8.11

Good Goering!


Seu irmão, Hermann Goering, era o braço direito de Adolf Hitler, criou a Gestapo e foi um dos principais responsáveis pelo genocídio dos judeus europeus. Albert Goering tinha índole inteiramente diferente. Arriscou sua vida (e soube tirar proveito do poder do irmão) para salvar muitos judeus e outros perseguidos pelo regime nazista. Preso depois da derrota da Alemanha da II Guerra - primeiro pelo aliados, depois pela Checoslováquia -, Albert beneficiou-se do testemunho de pessoas que ajudou e pôde recomeçar a vida com um certificado de inocência. O paralelo com Oskar Schindler, popularizado por Steven Spilberg no filme A Lista de Schindler, é inevitável. A história de Albert Goering, contudo, é quase desconhecida, além de mais surpreendente. Quem iria imaginar que o irmão do sucessor designado de Hitler tenha permanecido durante toda a guerra firmemente do lado do bem?

Albert entregou-se ao Exército americano em maio de 1945, certo de que os aliados iriam tentar capturá-lo por causa do parentesco com o Reichsmarschall Hermann Goering. Num relato entregue aos americanos, Albert enumerava suas atividades desde 1933. Afirmou nunca ter-se filiado ao Partido Nazista. Ao contrário, havia sido "um ativo combatente contra o nacional-socialismo", além de ter ajudado "dezenas de judeus". Também apresentou uma lista de 34 pessoas que salvou da Gestapo. Como prova adicional, dizia que Heinrich Himmler, o chefe da SS, chegou a ordenar sua prisão por atividades antinazistas. As afirmações eram mais incríveis por ser verdadeiras.

 Suicídio em Nuremberg - Hermann Goering, o irmão mais velho, é uma figura de destaque entre os maiores vilões do século. Chefe da Luftwaffe, a Força Aérea Alemã, e criador da Gestapo, a polícia política, ele foi também o idealizador dos campos de concentração. Condenado à forca no Tribunal de Nuremberg, suicidou-se com uma cápsula de cianureto horas antes da execução. Seria possível que, sob suas barbas, o próprio irmão desafiasse o credo totalitário nazista? Um dos melhores relatos sobre a saga do irmão bom-caráter do carrasco nazista foi publicado em forma de reportagem no jornal inglês Sunday Times. Seu autor, Adam LeBor, conta ter ouvido de testemunhas como Albert se recusava a usar a saudação nazista. Sempre que era recebido com um braço levantado e o Heil Hitler, tirava o chapéu e respondia com um polido "bom-dia". O irmão perverso, Hermann, chamava-o de "ovelha negra da família", embora sempre o salvasse de encrencas.

Não há, na verdade, nada na família Goering que justifique o anti-semitismo fanático de Hermann - exceto, e sobre isso só os psicanalistas podem especular, o fato de um amigo judeu da família ter sido amante de sua mãe durante quinze anos. Esse homem, Hermann von Epenstein, era padrinho de ambos, e os meninos passaram parte da infância em seu castelo da Bavária. Sempre houve especulações sobre a paternidade do caçula. A suspeita era reforçada pela tez morena e cabelos escuros de Albert, tão diferentes do loiro Hermann, que os nazistas consideravam o protótipo perfeito "ariano". Os irmãos eram extremamente ligados, o que deve explicar a tolerância do chefe nazista em relação ao rebelde.

Salvo-conduto - Quando os alemães anexaram a Áustria, em 1938, Albert era empregado de uma companhia cinematográfica cujo proprietário, o judeu Oskar Pilzer, foi preso. "Meu pai e Albert não eram amigos", relembrou um filho de Oskar, Georges, hoje com 77 anos, em depoimento a LeBor. "Mas, quando os nazistas o prenderam, Albert conseguiu libertá-lo na mesma tarde". No ano seguinte, Albert foi trabalhar como diretor de exportação da Skoda, a grande metalúrgica checa, então sob o controle dos nazistas, que tinham ocupado o país. Os diretores da Skoda acharam ótimo ter entre eles o irmão do número 2 do regime nazista. Albert ajudou a impedir que a fábrica fosse desmontada e levada para a Alemanha. A indústria era o centro da resistência checa - e Albert com certeza sabia disso.

Como Schindler, Albert era um homem de negócios que soube tirar proveito de suas conexões com a cúpula nazista e viver confortavelmente num mundo mergulhado no horror. Não é por isso que a História irá julgá-lo - o que pesa são depoimentos como o do médico Ladislav Kovacs, judeu húngaro que conheceu Albert em Roma, hoje disponíveis nos arquivos públicos em Londres. Albert propôs a Kovacs abrir uma conta bancária na Suíça para ajudar judeus e outros refugiados do regime nazista. Em 1943, quando os nazistas invadiram a Itália, Albert escreveu pessoalmente um salvo-conduto para Kovacs e sua família - documento sem valor legal, mas nenhum agente da Gestapo ousaria afrontar o irmão do Reichsmarschall. Exibindo o sobrenome poderoso, Albert passou toda a guerra providenciando dinheiro e documentos para pessoas perseguidas pela Gestapo. Umas poucas são bem conhecidas, como Jan Moravek, diretor da Skoda e líder da resistência checa, ou do compositor Franz Lehar, de A viúva Alegre, e sua mulher, a judia Sophie Paschikis. Albert conseguiu do ministro da propaganda nazista, o sinistro Joseph Goebbels, um certificado de "ariana honorária" para Sophie.

Há registros de como os irmãos Goering mantinham negócios lucrativos (afinal, Albert fabricava armamentos e faturou alto com a guerra). Hermann chegou a advertir o irmão para se manter longe dos "assuntos do Estado", eufemismo para o extermínio dos judeus. O caçula era, entretanto, icorrigível. Em 1944, foi finalmente preso, por se recusar a sentar à mesa com um figurão nazista que certa vez assassinara um político socialista. Como sempre, o irmão o socorreu. Albert Goering casou quatro vezes e morreu em 1966, depois de trabalhar como projetista e engenheiro numa firma de construção em Munique. Nunca falava sobre a história excepcional que viveu durante a guerra.



"Albert é um tsadik, um justo. A história dele precisa ser mais divulgada. Um verdadeiro heroi dentre os eternos vilões, demais!"

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